RoboCop: Rogue City faz muito com pouco

Jogador assume o controle do famoso policial blindado, em uma aventura bastante imersiva, que remete os tempos de ouro do personagem nos cinemas

RoboCop: Rogue City faz muito com pouco

Imagem: Divulgação/Nacon

Embora seja um clássico dos cinemas dos anos 80, com uma forte crítica ao capitalismo e ao corporativismo extremo, não é de hoje que o personagem Robocop encontra dificuldades para apresentar uma experiência tão impactante quanto a primeira. O segundo filme de 1990, mesmo não trazendo o mesmo nível de profundidade, consegue ser uma sequência competente. No entanto, o mesmo não pode ser dito de “RoboCop 3” (1993) ou do desastroso reboot de 2014, dirigido pelo cineasta brasileiro José Padilha.

Apesar de tudo, os fãs foram presenteados com uma experiência que faz jus ao policial blindado, além de ser uma sequência digna do segundo filme. Porém, esta nova aventura não acontece nas telas dos cinemas, mas nos videogames. “RoboCop: Rogue City” é um jogo criado pela desenvolvedora polonesa Teyon e publicado pela editora francesa Nacon. O LeiaJá teve a oportunidade de testar o título em sua versão de Xbox Series X/S.

Um enredo a altura do RoboCop

A história de “Rogue City” acontece após os eventos do segundo filme e é ambientada em um cenário distópico, na cidade de Detroit, que é tomada pela criminalidade. Por conta disso, a empresa, Omni Consumer Products (OCP), deseja desenvolver uma nova Detroit e rebatizá-la de Delta City, com a promessa de que será um local livre de crimes. Por se tratar de uma iniciativa privada, a ideia não deixa de gerar inúmeros conflitos com o setor público.

Enquanto isso acontece, Detroit continua a ser tomada por gangues de narcotraficantes, e cabe ao Departamento de Polícia de Detroit (que nesta história é uma entidade privada pertencente à OCP) tentar conter essa situação e minimizar os possíveis danos. A principal carta na manga da força policial é o próprio RoboCop, um ciborgue blindado, que se utiliza do cérebro humano do agente Alex Murphy, ao qual foi morto brutalmente em uma missão.

Logo no início do game, RoboCop é enviado para conter a invasão da gangue Cabeça de Tocha no Canal 9, que aconteceu durante a apresentação do telejornal. Durante a missão, uma pane no sistema faz com que o policial blindado comece a ter alucinações de sua vida passada, o que também gera problemas durante o resgate de um refém.

A situação foi televisionada e criou uma má impressão com o público, que passou a questionar a eficiência do RoboCop e também das demais criações da OCP. Além disso, também existe um novo chefe do crime rondando por Detroit e sua identidade é completamente desconhecida. A princípio, ele é chamado apenas de “novato”. Cabe ao ciborgue tentar interrogar os integrantes de gangues para descobrir quem é o sujeito.

Vale destacar que rostos conhecidos pelos fãs marcam presença no game, entre eles, Peter Weller que interpretou Alex Murphy (RoboCop) nos dois primeiros filmes. Além da sua aparência, ele também dublou as falas do personagem, o que torna “Rogue City” uma experiência ainda mais autêntica.

Embora não conte com dublagem brasileira, o título dispõe de legendas em português. Desta forma, os jogadores brasileiros poderão compreender a narrativa sem grandes problemas.

Se sinta na pele do RoboCop

Um dos pontos altos de “Rogue City” é o seu gameplay imersivo, que contribui para que o jogador se sinta o próprio RoboCop. A movimentação é lenta e pesada, tal como é mostrado nos filmes clássicos da franquia e, embora possa causar estranheza em um primeiro momento, não demora muito para se adaptar ao ritmo do game. É importante ressaltar que a câmera em primeira pessoa contribui para melhorar o grau de imersão.

Durante todo o título, o jogador terá que controlar o personagem em dois modos. O primeiro deles é quando o ciborgue precisa investigar os cenários e interrogar testemunhas. Durante este período, não é possível manusear armas de fogo ou dar socos. Normalmente esse tipo de situação ocorre em cenários semiabertos, que embora não sejam amplas, permitem um certo nível de exploração e abrem chances para realizar missões secundárias.

Ao pressionar o botão LT (ou L2 no controle de Playstation), RoboCop pode fazer uma leitura completa da área, escanear objetos e encontrar itens de interação. As tarefas secundárias incluem a aplicação de multas ou advertência na cidade de Detroit, recolhimento de evidências de crimes (que estão espalhados por todos os cenários) ou favores para cidadãos comuns e colegas de trabalho.

Muitas dessas missões não trazem nenhum acréscimo relevante para trama, mas ajudam a desenvolver melhor a profundidade dos personagens secundários, além de também resultarem em mais pontos de experiência para o RoboCop.

O segundo modo de jogo é quando o ciborgue está no campo de batalha. Quando isso acontecer, ele sacará automaticamente a sua pistola Auto 9, a qual é mais do que suficiente para lidar com qualquer tipo de inimigo. Até existe a possibilidade de utilizar outras armas caso o jogador prefira, mas, o clássico revólver do RoboCop está pronto para lidar com todo tipo de situação.

Para os criminosos comuns, uma sequência de tiros na cabeça é mais do que suficiente. No caso daqueles que possuem algum tipo de proteção, é possível mirar nas partes íntimas do inimigo e lhe gerar um dano fatal (uma pequena referência a uma situação que ocorre no primeiro filme, quando RoboCop precisa lidar com um abusador).

Ao longo da jornada, o jogador irá coletar algumas placas de circuitos para a Auto 9, onde é preciso distribuir diversos circuitos de maneira correta, para que desta maneira seja possível aprimorar elementos como o dano da arma, a quantidade de tiros simultâneos, a capacidade do pente, a velocidade de disparo e outros.

Além disso, também é possível evoluir outros atributos do próprio RoboCop. Ao realizar qualquer tipo de ação no jogo, como coletar evidências, eliminar inimigos ou cumprir missões, o jogador ganhará experiência (XP) e, ao atingir mil de XP, ele ganhará um ponto de upgrade, que poderá ser alocado em alguma das ramificações do personagem.

Os atributos são: Combate, Blindagem, Vitalidade, Engenharia, Foco, Examinando, Dedução e Psicologia. Cada uma dessas ramificações possuem 10 nós, entretanto, somente os segundos, sextos e décimos nós darão algum tipo de vantagem ou habilidade nova para o personagem. Isso pode frustrar alguns jogadores, já que serão obrigados a gastar inúmeros pontos de habilidades sem receber nenhum tipo de recompensa. Felizmente, ganhar tais pontos não é algo que demanda muito tempo.

É só para os fãs de RoboCop?

“Rogue City” faz para RoboCop o que a franquia “Batman: Arkham” fez para o homem-morcego, que é entregar um jogo digno do personagem e que faz com que os fãs se sintam de fato no controle do mesmo ciborgue que aparece nos filmes. Entretanto, diferente dos games do herói da DC, este aqui sofre de algumas limitações, que embora não comprometam, geram pequenos incômodos na experiência.

Além disso, por mais que a comparação seja justa em termos de respeito à obra original, o mesmo não se aplica ao escopo. Diferente da Warner Bros. Games que é capaz de aplicar orçamentos milionários em seus jogos, “RoboCop: Rogue City” conta com um investimento mais modesto.

Na parte gráfica, o jogo conta com uma modelagem de personagens principais bastante competente, principalmente no próprio RoboCop, por outro lado, os personagens secundários contam com modelos mais simples, chegando até a se repetirem, como é o caso dos inimigos. Durante os testes, também foi possível constatar alguns defeitos nas expressões faciais dos coadjuvantes, que faziam parecer que uma parte de seus lábios estava colada.

Já a jogabilidade, conforme descrita anteriormente, ela deverá agradar todos os fãs do personagem, mas provavelmente aqueles que não conhecem nada de RoboCop e procuram apenas por um game de tiro divertido, poderão se aborrecer com a movimentação travada do personagem.

“RoboCop: Rogue City” é aquele clássico game que é baseado em uma obra e que tem como foco os fãs daquele universo. Neste aspecto, o título consegue ser mais do que competente, principalmente por entregar uma história que remete aos bons tempos da franquia nos cinemas. Se for necessário utilizar um clichê para descrever o game, pode-se dizer que ele é uma carta de amor aos fãs do policial blindado.

Vale lembrar que a Nacon já confirmou uma expansão independente (que não necessita do game original para funcionar), intitulada de Unfinished Business. A promessa é que este conteúdo adicional seja lançado em algum momento do segundo semestre de 2025. “Rogue City” está disponível para PS5 por R$299,90, Xbox Series X/S por R$222,45 e PC por R$179,99.

*Colaboração de Alfredo Carvalho para o LeiaJá