Assassin’s Creed Shadows é um ponto fora da curva
Game consegue apresentar um enredo envolvente, dois personagens com jogabilidades diferentes entre si e um sistema de combate bem trabalhado
março 18, 2025 - 3:23 pm

Imagem: Divulgação/Ubisoft
O próximo capítulo da franquia “Assassin’s Creed” será lançado na próxima quinta-feira (20) e chega após alguns adiamentos e, principalmente, muitas polêmicas. Muito além disso, “Assassin’s Creed Shadows” vem com a difícil missão de ser um ponto de virada para a Ubisoft, que poderá definir não apenas o futuro da franquia, como também o da própria empresa. Ainda não é possível afirmar se isso ocorrerá, mas por hora, o que pode ser dito é que “Shadows” é bastante eficiente no que se propõe a fazer e o LeiaJá teve a oportunidade de testar o título em sua versão de PS5.
Os jogos de “Assassin’s Creed” são conhecidos por sempre abordarem um período histórico específico e se utilizarem de acontecimentos reais, para implementar uma narrativa ficcional sobre o eterno embate entre a ordem dos Assassinos e dos Templários. No tempo presente, existe uma máquina de realidade virtual chamada Animus, que permite ao usuário revisitar as memórias de seus antepassados, por meio dos registros contidos em seu DNA.
A franquia já trabalhou em cima de momentos como a Revolução Francesa (1789 – 1799); a Terceira Cruzada (1189 – 1192); Era Dourada da Pirataria (1650 – 1730); Renascença Italiana (ocorrido entre os séculos XIV e XVI) e vários outros. Mas de todos, um dos períodos mais aguardados e pedido pelos fãs de “Assassin’s Creed” era o do Japão Feudal (1185 – 1603). Esta seria a chance perfeita de incorporar os conceitos de ninjas e samurais na mitologia da obra, o que realmente aconteceu, mas não da maneira como todos esperavam.
História e polêmicas a partes
Ao ser revelado no primeiro semestre de 2024, “Assassin’s Creed Shadows” tornou-se alvo de inúmeros comentários preconceituosos, isso porque foi revelado que um dos personagens controlados pelo jogador seria o samurai Yasuke, um personagem de origem africana, de pele negra e que de fato existiu no mundo real. Segundo os registros históricos, Yasuke serviu o famoso daimyo japonês, Oda Nobunaga (1534 – 1582), que também faz parte da trama do game.
É importante lembrar que tais reclamações não ocorreram quando o ator americano Tom Cruise, foi escolhido para viver o personagem Nathan Algren em “O Último Samurai” (2004); assim como ninguém criticou o personagem William no game “Nioh” (2017). Ambos são estrangeiros que se tornaram samurais durante o decorrer da história.
Vale destacar que essa é a primeira vez que a franquia usa um personagem histórico real para assumir um papel de protagonismo, já que outras figuras também já deram as caras na série, como por exemplo, Leonardo da Vinci (1534 – 1582), Benjamin Franklin (1706 – 1790), Napoleão Bonaparte (1769 – 1821), Karl Marx (1818 – 1883) e outros. Embora eles estejam presentes na trama dos games, eles não podem ser controlados pelos jogadores, diferente do que ocorre com Yasuke.
Porém, “Assassin’s Creed Shadows” conta com dois protagonistas, tal como aconteceu em “Assassin’s Creed Syndicate” (2015). Além de Yasuke, o jogador também assumirá o controle da personagem Naoe, uma ninja extremamente ágil, que tem como foco a furtividade e que é totalmente fictícia.
Logo no início do game, o jogador assume o controle de Yasuke por um breve momento, que narra como foi o primeiro contato entre o personagem e Nobunaga. Depois dessa introdução, o primeiro ato do game se iniciará e os eventos dele girará em torno de Naoe, ao qual será a única protagonista jogável durante todo o capítulo.
Naoe é quem veste o manto de assassino desta história e é a herdeira da lâmina oculta (a famosa arma usada pelos personagens dessa franquia para assassinar os seus alvos). Após o pai da jovem ninja ser morto pelos integrantes da facção Shinbakufu, ela parte em uma jornada para derrotar o grupo, onde terá que enfrentar cada membro dessa organização. No entanto, ela não estará sozinha e conforme a jornada avança, Naoe reunirá diversos aliados, entre eles, o próprio Yasuke.
Aqui cabe um elogio a fluidez narrativa que a Ubisoft teve com “Assassin’s Creed Shadows”. Primeiro pela construção dos dois protagonistas, que são devidamente introduzidos dentro da obra e conseguem fazer com que os jogadores se importem com eles, a ponto de desejarem seguir com a história só para saber o que acontecerá com eles. Além disso, a narrativa de modo geral é bem construída e cheia de reviravoltas.
Antes de iniciar o game, é possível escolher entre o modo canônico, que remove todas as opções de diálogos e possibilidades de mudanças na história, sendo ideal para os que querem acompanhar a linha do tempo real do título. As mecânicas de personalização de história foram introduzidas em “Assassin’s Creed Odyssey” e, apesar de ter agradada uma parte da base de fãs, também desagradou alguns jogadores, por conta disso, a opção de ativar ou não o modo canônico no “Shadows” é uma tentativa válida de satisfazer ambos os lados.
Jogue como um Ninja ou Samurai
Se tem um ponto onde “Shadows” brilha, este é o gameplay. É importante destacar que a Ubisoft fez aqui o que ela não conseguiu realizar em 2015, com “Syndicate”, que também trazia essa dinâmica com dois protagonistas, mas que pouco se diferenciavam em suas jogabilidades. Desta vez, contamos com dois personagens que jogam de maneira completamente distintas, onde cada um possui suas vantagens e desvantagens.
Conforme mencionado antes, Naoe é uma ninja focada em furtividade, que consegue se infiltrar em bases inimigas e assassinar seus alvos sem chamar muita atenção. Como já é comum na franquia, o jogador pode se esconder em gramados ou em cantos de paredes, atrair a atenção dos inimigos com ferramentas ou assobios e aplicar o golpe final.
Um dos destaques fica por conta da praticidade na hora de realizar os assassinatos. Caso Naoe esteja alocada em um canto de parede, basta apertar o botão R1 (ou RB no controle de Xbox) no momento em que ele aparecer na tela, que a personagem se deslocara automaticamente até o alvo, aplicará o golpe e voltará para o local que estava, ao mesmo tempo que também oculta o corpo do inimigo abatido. Toda essa automação garante mais dinamismo para o gameplay.
Além disso, é interessante perceber como Naoe utiliza a escuridão para ocultar a sua presença, podendo apagar a luz de velas ou lâmpadas para tornar o ambiente ainda mais escuro. Esse é um elemento que a Ubisoft utilizava bastante em sua franquia de espionagem “Splinter Cell”, principalmente no último título lançado em 2013, “Blacklist”.
A personagem também conta com diversas ferramentas, como kunais e shuriken (estrelas ninjas), que podem ser úteis em assassinatos silenciosos a longa distância. A protagonista dispõe de acessórios que podem provocar barulhos e chamar a atenção dos inimigos; e também possui uma bomba de fumaça, ideal para as fugas nos momentos em que ela for vista.
No combate, Naoe é capaz de manusear katanas, kusarigamas e tantos (uma espada curta normalmente utilizada por ninjas e samurais) de maneira bastante ágil. No entanto, sua resistência é bem baixa e, na maioria dos casos, ela pode ser morta com cerca de dois ou três golpes, o que reforça mais uma vez a importância de optar pela furtividade.
Outra vantagem de Naoe é a sua habilidade na hora de realizar o clássico parkour, que é os movimentos usados pelos personagens na hora de realizar escaladas, desviar de obstáculos e pular de um ponto para o outro de maneira eficiente. Essa atividade é uma marca registrada na franquia “Assassin’s Creed” e, em “Shadows”, a prática está bastante fluida, algo que não se via desde “Unity” (2014) o que torna a mecânica bastante prazerosa de ser utilizada.
Por outro lado, Yasuke é o completo oposto de Naoe, o que faz deste um contraste interessante entre os personagens. O samurai é um brutamonte e o seu forte é o combate corpo a corpo, sendo capaz de enfrentar inúmeros inimigos de uma única vez. Outra característica fica por conta de sua alta resistência, que consegue aguentar vários golpes antes de morrer.
Yasuke é um mestre com Katanas, mas também é eficiente com armas pesadas. Por ser mais desengonçado, o personagem não é a melhor escolha para missões furtivas e também possui dificuldades na hora de realizar escaladas.
Fora das missões, o jogador poderá alternar entre os dois personagens a qualquer momento depois do primeiro ato. Durante as missões, haverá momentos em que é possível escolher entre Yasuke e Naoe, mas também existem aquelas partes encriptadas, onde o próprio jogo vai decidir qual protagonista deve ser utilizado.
Assim como já é estabelecido nos jogos da saga, principalmente nos últimos que seguem uma linha de RPG, é necessário aprimorar as habilidades dos personagens. Durante a aventura, o jogador ganhará pontos de maestria, e esses pontos podem ser distribuídos em diferentes árvores de habilidades, que vão de acordo com o gameplay de cada um.
Os que preferem uma abordagem mais furtiva, provavelmente investirão na árvore “Assassino” de Naoe ou em “Ferramentas”. Assim como cada arma, seja de Naoe ou de Yasuke, oferecem uma árvore de maestria dedicada, seja para fortalecer os ataques padrões ou para adquirir novas habilidades especiais.
É importante lembrar que os dois personagens possuem níveis compartilhados, então ao subir de nível ou ganhar um ponto de maestria com um, o outro automaticamente também ganhará. Apenas a distribuição desses pontos precisa ser feita de maneira individual, já que cada um possui árvores de habilidades diferentes.
Um combate fluido
Mesmo que cada personagem tenha suas diferenças bem definidas, as regras para o combate direto são as mesmas para ambos. O jogador pode atacar os inimigos de maneira direta, no entanto, apenas amassar os botões podem resultar em golpes ineficazes, principalmente em níveis de dificuldade mais elevados.
A maneira mais eficaz de causar dano nos inimigos é por meio das aparadas, que acontecem quando o jogador aperta o botão de defesa no momento exato que o adversário aplica o golpe. Caso a aparada seja bem sucedida, o inimigo piscará em amarelo e ficará vulnerável por alguns segundos.
Entretanto, os adversários atacarão de diferentes modos. Caso a arma do inimigo brilhe em azul, significa que ele realizará uma sequência de golpes que devem ser todos aparados perfeitamente e somente no último ataque ele ficará vulnerável.
Existem também os ataques que brilham em vermelho e esses são indefensáveis, a única maneira de evitá-los é se desviando. Se a esquiva for feita no momento exato, tal como a aparada, o inimigo também ficará vulnerável.
O jogador também pode atacar os inimigos com golpes especiais, que são adquiridos nas árvores de habilidades. Essas técnicas podem ser alocados no menu do botão R2 e costumam causar enormes danos aos inimigos, além de muitas vezes deixá-los vulneráveis. Mas, eles requerem um tempo para serem recarregados e também consomem pontos de energia do personagem.
Mundo aberto e progressão
O mapa de “Shadows” segue o mesmo padrão adotado pela Ubisoft nos últimos “Assassin’s Creed” (e também em seus outros jogos), com mapas de grandes proporções, que vai sendo revelado conforme o jogador progride nele e ativa os famosos pontos de sincronia. Além disso, é possível se ocupar bastante enquanto passeia por ele, já que é possível saquear as bases de inimigos, rezar em santuários, reviver lembranças de Naoe ou aprender novos Katas (sequência de movimentos com a espada) para Yasuke.
Só que também existem diferenças significativas em “Shadows”, principalmente no que diz respeito à progressão. A boa notícia é que foram descartadas todas aquelas missões que transformam o protagonista em um “garoto de recado”, que pedem para que ele vá ao ponto B do mapa, fale com alguém ou busque um item e depois retorne ao ponto A. Esse é um formato de quest que era aceitável até 2014, mas que com o tempo se tornou insuportável e passou a ser bastante utilizado em jogos de mundo aberto, como uma forma de trazer mais “volume”.
Não inflar o jogo com diversas quests que não acrescentam em nada na narrativa, mostra que a Ubisoft pode finalmente estar disposta a inovar a sua fórmula padrão de jogos. No entanto, ainda há o que ser lapidado aqui. Basicamente todas as missões, sejam elas principais ou secundárias, se resumem a uma árvore de alvos que precisam ser assassinados e, por mais que seja um ponto alto do jogo, esse formato também pode contribuir para que ele fique repetitivo.
De maneira geral, o jogador recebe três pistas de onde está um determinado inimigo, por exemplo: “está em uma cidade especifica”, “a oeste de um ponto A” e “foi visto pela última vez ao sul do ponto B”. O jogador pode seguir essas dicas para tentar localizar o inimigo no mapa ou simplesmente enviar seus batedores para dar a localização exata do alvo (só que esse recurso é limitado).
Além dos vilões principais, existem diversos subgrupos e cada integrante segue essa sequência de localizar o alvo e então confrontá-lo diretamente ou assassinar ele de maneira furtiva. É importante reiterar que esse sistema é bem construído e é satisfatório percorrer o mapa para localizar os inimigos, mas ter um jogo inteiro baseado nisso pode deixá-lo cansativo, principalmente para os que buscam pelos 100%.
A melhor performance de um “Assassin’s Creed”
O desempenho técnico de “Shadows” é mais um acerto da Ubisoft e prova que os adiamentos que o título recebeu impactaram positivamente no resultado final, já que a empresa teve mais tempo para polir o game.
Vale lembrar que esse texto teve como base a versão de PS5. Mesmo no modo desempenho, o jogo consegue manter um bom equilíbrio entre bons gráficos e fluidez nos quadros por segundo (FPS) na maior parte do tempo. A única exceção é a área do esconderijo, pois lá o FPS estranhamente fica abaixo dos 30. Já no restante do mapa, o FPS permanece estável.
O game também trabalha com um sistema de mudanças de estações, que alternam entre primavera, verão, outono e inverno. Com isso, alterações climáticas como chuva e neve podem marcar presença em determinadas regiões e isso pode impactar diretamente na qualidade do gráfico, deixando-o com aspecto de granulação.
Ao longo dos testes também não foram detectados muitos bugs (erros de programação). Em raros momentos era possível ver um objeto ficar tremido no mapa ou uma textura desaparecer e recarregar em sequência. A inteligência artificial dos inimigos também não é das melhores e de vez em quando ela desliga, fazendo com que eles fiquem presos em uma parede ou em uma rocha.
É importante ressaltar que muitos desses problemas podem ser corrigidos em atualizações futuras ou até mesmo no patch de “day one”.
Vale a pena?
“Assassin’s Creed Shadows” é o lançamento mais sólido da franquia dos últimos anos, pois consegue trazer um enredo envolvente, dois protagonistas com jogabilidades diferenciadas, um combate fluido e poucos problemas de performance (pelo menos na versão de PS5). O título possui competências suficientes para ser reconhecido como um dos melhores da saga e quem sabe, um ponto de virada para a Ubisoft. Este game será lançado na próxima quinta-feira (20), para PS5, Xbox Series X/S e PC por aproximadamente R$350.
*Colaboração de Alfredo Carvalho para o LeiaJá