Mullet MadJack é um passeio insano e nostálgico

Título traz um gameplay frenético, mas também consegue realizar críticas a diversos elementos da atual sociedade

Mullet MadJack é um passeio insano e nostálgico

Imagem: Divulgação/Hammer95 Studios

Não é de hoje que o Brasil tem sido a casa de games renomados e títulos como “Horizon Chase” (2015), “Chroma Squad” (2015) e “A Lenda do Herói” (2016) são só alguns dos exemplos de como o país possui grandes talentos. Em 2024, “Mullet MadJack” chegou para se juntar aos destaques brasileiros e se tornou um dos jogos mais bem avaliados do agregador de notas Metacritic. Disponível inicialmente para PC, a desenvolvedora Hammer95 Studios ao lado da editora Epopeia Games, lançou na última quinta-feira (13), uma versão para Xbox Series X/S e Xbox One.

Vale destacar que “Mullet MadJack” consegue ser competente em todas as suas propostas e que não é o simples fato de ele ser brasileiro que o torna automaticamente um jogo bom. Neste título, a Hammer95 Studios conseguiu trazer elementos nostálgicos dos anos 90 e, ao mesmo tempo, fazer uma crítica profunda e válida para a sociedade moderna. O LeiaJá teve a oportunidade de testar o game em sua recente versão de Xbox Series X/S.

Como funciona o game?

“Mullet MadJack” possui um formato de câmera em primeira pessoa, onde o jogador observa todo o cenário pela perspectiva dos olhos do protagonista. Além disso, o game também conta com elementos de roguelite, que obriga o jogador a recomeçar os níveis inteiros ao morrer e a aprender com cada erro cometido. O ritmo frenético, que na maioria das vezes exige uma resposta rápida, também é uma forte característica deste gênero de jogo.

Diante disso, em “Mullet MadJack” o jogador assume o papel do protagonista Jack, que deve percorrer um prédio composto por 100 andares, infestado de robôs, para resgatar uma influenciadora digital. A cada 10 níveis avançados, será necessário enfrentar um chefão e após vencê-lo, um checkpoint (ponto de controle) é alcançado. Para lidar com os inimigos, Jack terá ao seu dispor pistolas, metralhadoras, facas, espadas e diversas outras armas, que garantem um gameplay diversificado e finalizações criativas.

A cada andar concluído o jogador poderá escolher uma vantagem para Jack, que vão desde aumentos de danos para os ataques, maior resistência ao ataque dos robôs ou uma arma nova. Essas alternativas são oferecidas de maneira randômica e podem impactar diretamente no desempenho do protagonista em um determinado cenário.

No entanto, um dos principais diferenciais de “Mullet MadJack” gira em torno de como o jogador é penalizado ou recompensado durante as partidas. Embora Jack possua uma barra de vida tradicional, ela não será o principal foco do gameplay, mas sim um contador de 10 segundos que resultará em um game over caso ele seja zerado. Para evitar que isso aconteça, é preciso finalizar os inimigos espalhados pelo cenário para garantir alguns segundos extras ou concluir o andar antes que o tempo acabe.

Essa dinâmica irá exigir um grau elevado de habilidade e precisão por parte do jogador, que precisará estar atento aos inimigos da fase e também no gerenciamento de seus limitados segundos de vida. Caso Jack morra, ele terá que retornar para o último ponto de controle, que geralmente está na dezena inicial do prédio. Por exemplo, se a derrota acontecer no 19º andar, ele retornará para o 10° e também perderá todas as vantagens acumuladas ao longo daquela partida.

Além disso, os cenários também são escolhidos de maneira randômica, então os caminhos nem sempre serão os mesmos em cada tentativa. Isso ajuda a deixar o processo menos repetitivo e também é uma característica bem presente em jogos do gênero roguelite.

Contudo, aqueles que preferem ter uma jornada mais simples, podem optar pelos níveis reduzidos de dificuldade, que vão garantir uma experiência menos caótica.

A trama e a crítica social

Uma vez que as mecânicas de jogabilidade foram explicadas, fica mais simples de entender o enredo, já que em “Mullet MadJack”, ambos os elementos estão conectados. O título é ambientado em um universo cyberpunk (temática de ficção científica, que aborda um futuro onde tudo está ligado a tecnologia, mas que mantém um padrão de qualidade de vida bem baixo para a sociedade), onde tudo é dominado por grandes corporações e o entretenimento é o que mantém as pessoas como “reféns” dessas empresas.

Jack é um moderador de live, que na maioria das suas missões precisa destruir exércitos de robôs e lidar com outras situações igualmente perigosas. A diferença é que tudo isso é transmitido e funciona como entretenimento para a sociedade deste mundo.

Conforme mencionado anteriormente, o protagonista deve finalizar cada um dos andares antes que o contador de 10 segundos chegue a zero e, para isso ele precisa finalizar os inimigos de maneira criativa, o que vai render a ele mais tempo. Isso acontece porque ao entreter o público, Jack recebe mais “curtidas”, que são convertidas em doses de dopaminas capazes de estender sua estimativa de vida.

Apesar de ser um enredo simples, ele conta com inúmeras reviravoltas que podem surpreender o jogador ao longo do gameplay. Além disso, é possível enxergar uma crítica clara ao corporativismo dentro de “Mullet MadJack”, assim como as consequências negativas que o capitalismo exagerado pode trazer para a sociedade.

O game também brinca com elementos que giram em torno das redes sociais, como a busca desesperada por visualizações, curtidas ou engajamentos. Assim como uma parcela do público, que muitas vezes aceita qualquer tipo de conteúdo e se mantém em frente a uma tela por horas, como se estivessem hipnotizados.

“Mullet MadJack” impressiona não apenas pelo seu gameplay frenético e visuais coloridos, mas também por conseguir abordar todos esses assuntos complexos de uma maneira simples e direta; sem gerar incômodos aos que apenas querem apenas jogar o título, sem se preocuparem com tais assuntos.

Um elenco digno dos anos 90

Um ponto que chamará a atenção de qualquer amante de games e desenhos dos anos 90 é o elenco de dublagem de “Mullet MadJack”, que conta com nomes conhecidos da dublagem brasileira. A voz do protagonista Jack por exemplo, é interpretada pelo dublador Luiz Feier Motta, também conhecido pelos seus trabalhos como Toguro no anime “Yu Yu Hakusho” (1992) e Sylvester Stallone (nos mais diversos filmes do ator).

Além de Jack, o título também conta com vozes que marcaram o anime “Cavaleiros do Zodíaco” (1990). A personagem Streamer, é dublada pela atriz Isabel de Sá (Marin de Águia). A influenciadora que deve ser resgatada é interpretada pela dubladora Letícia Quinto (Saori Kido). Hermes Baroli (Seiya de Pegasus) e seu pai Gilberto Baroli (Saga de Gêmeos) dublaram os vilões Andróide e Sr. Bullet respectivamente.

Já os Robilionários foram interpretados pelo ator e dublador Guilherme Briggs, conhecido por ser a voz clássica do Superman e de outros personagens como Buzz Lightyear em “Toy Story”, Fred Flintstone em algumas produções de “Os Flintstones” e também Ross Geller, na primeira dublagem de “Friends” (1994).

 “Mullet MadJack” é um passeio nos anos 90 e muitos que cresceram ouvindo essas vozes reconhecerão logo nos primeiros minutos. Esse tipo de trabalho só mostra o cuidado e dedicação que Hammer95 Studios teve com o seu projeto. O título que antes estava disponível apenas para PC, também está acessível no Xbox Series X/S e Xbox One por R$59,95. Entretanto, os assinantes do serviço Xbox Game Pass também podem acessar o game gratuitamente.

*Colaboração de Alfredo Carvalho para o LeiaJá