Soul Reaver 1-2 Remastered traz esperança para a saga

Título traz os dois jogos com gráficos refeitos e algumas adições na jogabilidade

Soul Reaver 1-2 Remastered traz esperança para a saga

Imagem: Divulgação/Aspyr Media

Embora não tenha sido o sucesso mais expressivo de sua época, a franquia “Legacy Of Kain” conquistou uma parcela significativa de fãs no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Por conta disso, não é incomum encontrar jogadores que clamavam por jogos novos da saga, sejam eles remakes dos antigos ou até mesmo uma sequência. A desenvolvedora e publicadora Aspyr Media garantiu que esse retorno da série ocorresse, mas não da maneira que muitos consideram ideal, já que o novo lançamento se resume a um pacote remasterizado que reúne os dois títulos mais aclamados da narrativa.

“Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered” mantém a fidelidade das versões originais, ao mesmo tempo que traz melhorias gráficas e alguns ajustes no gameplay. Um trabalho semelhante ao que a própria Aspyr Media fez com o “Tomb Raider I–III Remastered”, também lançado neste ano. O LeiaJá teve a oportunidade de testar a coletânea na versão de PS5. Vale destacar que antes de mencionar qualquer coisa a respeito deste pacote, é importante entender o que é a franquia “Legacy Of Kain” e qual o seu histórico na indústria dos videogames.

Um legado esquecido com o tempo

O primeiro jogo da série foi publicado em 1996 pela Crystal Dynamics para PC e PS1, intitulado de “Blood Omen: Legacy of Kain”, mas foi apenas em 1999 que a saga alcançou o reconhecimento mundial, após o lançamento de “Legacy of Kain: Soul Reaver” também para PC e PS1 (e mais tarde para o Dramcast), que trazia o vampiro Raziel como protagonista, além de um estilo diferente de jogabilidade.

Após cair no gosto dos fãs, a sequência “Legacy of Kain: Soul Reaver 2” foi lançada para PC e PS2 em 2001. No ano seguinte, “Blood Omen 2: Legacy of Kain” chegava para todas as plataformas daquela época e colocava o jogador novamente no controle de Kain, mas este teve uma baixa aceitação por parte dos jogadores. Em 2003 “Legacy of Kain: Defiance”, lançado para PC, PS2 e Xbox, concluía a jornada de Kain e Raziel; e engavetava a franquia por um tempo indeterminado.

Em 2009 a desenvolvedora e publicadora de jogos japonesas Square Enix, fez a aquisição da Eidos Montréal e de sua subsidiária Crystal Dynamics, o que a tornou proprietária de franquias como “Tomb Raider”, “Deus Ex”, “Hitman” e também “Legacy of Kain”. Porém, tudo que foi feito com a saga dos vampiros neste período foi o multiplayer gratuito “Nosgoth” (2014), que teve os servidores encerrados em 2016.

As esperanças de um novo jogo da franquia “Legacy of Kain” ficaram ainda mais distantes em 2022, quando Square Enix anunciou a venda dos estúdios da Eidos Montréal e Crystal Dynamics para a Embracer Group. Até que em setembro de 2024, foi anunciado que a Aspyr Media estaria trabalhando nas remasterizações de “Soul Reaver” e “Soul Reaver 2”, com previsão de lançamento ainda para este ano.

O que é Soul Reaver

Em “Soul Reaver” o jogador assume o controle do vampiro Raziel, uma das criações de Kain, que após ultrapassar o seu mestre no processo evolutivo e adquirir asas, recebe a pior das punições. Kain arranca os ossos das asas de Raziel e o atira no lago dos mortos, que o deforma por completo.

Após 1000 anos deste acontecido, Raziel é despertado por uma entidade chamada de Elder God. Apesar da aparência lastimável e da sede de sangue que foi substituída pela sede de espíritos, o personagem vê naquela situação a oportunidade perfeita de se vingar de Kain e de todo o seu exército de generais. O jogo se inicia a partir deste ponto.

Jogabilidade

Tanto no primeiro quanto no segundo “Soul Reaver”, o jogador deverá resolver inúmeros quebra-cabeças que vão liberar caminhos e permitir a progressão. Um dos diferenciais fica por conta da capacidade de alternar entre os planos espirituais e físicos. No mundo dos espíritos é possível recarregar as energias e enfrentar determinados tipos de criaturas, que ao sugar seus espíritos, vão restaurar completamente a roda da vida de Raziel.

No plano espiritual não é possível mover objetos ou abrir portas e, em alguns locais, o cenário fica deformado, o que permite avançar por caminhos que são impossíveis no mundo físico. Vale destacar que em dado momento da jornada, Raziel ganhará a habilidade de atravessar grades ou portões (semelhante a um fantasma) e isso só pode ser feito no reino dos espíritos.

Já no plano físico, é onde o jogador poderá interagir com objetos, como por exemplo, arrastar caixas enormes ou manejar armas brancas. Entretanto, a estadia de Raziel no mundo dos vivos consome aos poucos a sua vida e para se manter “vivo” é necessário enfrentar as diversas criaturas que aparecem no caminho e sugar o seus espíritos. Além disso, a água é letal para o personagem (pelo menos até um determinado momento do game), e ao cair nela, ele é levado automaticamente para o plano espiritual.

Para eliminar os inimigos não basta apenas atacá-los, é necessário finalizar eles de alguma maneira e isso pode ser feito de diferentes maneiras. O jogador pode arremessá-los na água, perfurar eles com lanças ou jogá-los em locais de alta luminosidade, já que a luz do sol é letal para essas criaturas. Ao escolher uma destas formas, é necessário absorver o espírito dos adversários, caso contrário ele ressuscitará. Já em “Soul Reaver 2”, é possível dar o golpe final com a própria garra de Raziel, o que torna este processo um pouco mais simples.

Em dado momento do primeiro game, Raziel conquistará a espada Soul Reaver (ou pelo menos o seu espírito) e, enquanto ele estiver empunhado com essa arma, a sua vida não será drenada no mundo físico e o personagem poderá finalizar os inimigos sem depender de elementos do cenário. Por outro lado, a arma só fica acessível quando a vida do vampiro está em 100%.

É importante ressaltar que os dois jogos deste pacote não exigem habilidades motoras do jogador, uma vez que os combates são bem fáceis e para morrer no jogo, é preciso primeiro ser vencido no mundo físico e depois no mundo espiritual; e as chances de isso acontecer são bem baixas.

Dito isso, o verdadeiro desafio está na resolução dos enigmas e na progressão, que exigirá muito exercício de raciocínio lógico. Até mesmo as batalhas contra chefes podem ser traduzidas como grandes quebra-cabeças. Não é incomum ficar perdido nos games, andando de um lado para o outro do mapa sem saber o que fazer. O lado negativo, é que uma vez que o jogo seja concluído, o jogador não terá muitos incentivos para revisitá-lo, pelo menos não de imediato, já que tudo estará fresco na memória.

Novidades e polêmicas da remasterização

Da mesma maneira que ocorreu em “Tomb Raider I–III Remastered”, a Aspyr Media se mostrou competente ao manter a fidelidade do primeiro e segundo “Soul Reaver”, ao mesmo tempo que atualizava pontos importantes. Na parte gráfica, todos os personagens foram remodelados e as texturas dos cenários ganharam muitos mais níveis de detalhes.

Caso o jogador deseje aproveitar os games com seus gráficos originais ou até mesmo fazer um comparativo entre as versões, é possível trocar o visual do game ao apertar o R3 no controle do PS5 (ou o RS no Xbox). A transição acontece em menos de um segundo e é bastante prática de ser feita.

Outra adição significativa para esse remaster fica por conta do controle da câmera, que pode ser feito facilmente pelo analógico direito. No PS1, esse gerenciamento era realizado por meio dos botões de ombros, já que o uso das alavancas analógicas ainda não havia se tornado um padrão para a indústria naquela época.

A remasterização também colocou um “mapa”, que pode ser acessado pelo botão L1 (ou LB no Xbox), que embora não seja totalmente detalhado, ele apresenta uma perspectiva das áreas que compõe o jogo, e informações sobre os itens de upgrade naquela região (essenciais para aumentar a roda da vida de Raziel ou a sua capacidade de usar magia), quantos existem e se eles foram ou não coletados.

O único ponto negativo deste pacote, é que ele não vem com legendas ou com dublagem em português brasileiro, o que dificulta o entendimento da história para os jogadores que não possuem o domínio da língua inglesa. O maior agravante, é que a narrativa destes jogos é bastante rica, além de ser um de seus maiores atrativos. Vale lembrar que a versão original do primeiro  “ Soul Reaver ” contava com legendas e dublagem em português, o que torna ainda intolerável a falta de suporte para o idioma brasileiro.

Porque apenas dois jogos?

Um ponto que era sempre abordado pelos fãs desde o anúncio deste remaster, eram os motivos que levaram a Aspyr Media a remasterizar apenas o primeiro e o segundo  “Soul Reaver”. Embora não tenha tido nenhum pronunciamento oficial da empresa, o histórico de aceitação e vendas da franquia deixa evidente que estes foram os dois títulos que mais se destacaram dentro da saga, seja por conta do personagem Raziel que possui um nível de carisma muito mais elevado que o do próprio Kain ou até mesmo pela mudança no visual, já que enquanto “Blood Omen” trazia uma câmera com visão panorâmica (vista de cima para baixo), o “Soul Reaver” vinha com uma perspectiva 3D, que era um formato em ascensão na época.

Contudo, a não inclusão de “Legacy of Kain: Defiance”, que é o último título da saga, deixa esse pacote com uma lacuna na história, já que embora ele conte com um formato de gameplay diferente do que é visto no primeiro e segundo “Soul Reaver”, ele é essencial para que o jogador compreenda o desfecho da jornada de Kain e Raziel. Resta aguardar que a Aspyr Media lance a remasterização desse game em um segundo pacote.

Vale a pena?

“Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered” pode não ser o retorno que muitos sonhavam, mas é uma esperança para que a saga volte com força total em um futuro próximo, afinal de contas, se a coletânea alcançar números satisfatórios nas vendas, a Aspyr Media poderá se sentir mais à vontade para trabalhar com mais títulos dessa franquia, seja em outros relançamentos ou até mesmo em novos projetos.

A falta de uma localização em português brasileiro e a ausência do título “Legacy of Kain: Defiance” pesam negativamente para a coletânea. No entanto, as melhorias gráficas e o fato de estes títulos serem disponibilizados para as plataformas modernas (sem que seja necessário usar de meios alternativos ou encarar a problemática versão de PC da Steam), fazem deste pacote mais um acerto da Aspyr Media em 2024. “Legacy of Kain: Soul Reaver 1-2 Remastered” está disponível para PS4, PS5, Xbox Series X/S, Xbox One e Nintendo Switch por R$159,95; e PC por R$88,99.

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*Colaboração de Alfredo Carvalho para o LeiaJá