Metaphor: ReFantazio traz o melhor da Atlus

Título surpreende com um enredo profundo e com teor político; além de possuir um combate por turnos aprofundado

Metaphor: ReFantazio traz o melhor da Atlus

Foto: Divulgação/Sega

Em um período onde os jogos tentam entregar uma experiência cinematográfica, com gráficos de última geração, realismos nas expressões faciais e mundos abertos cada vez maiores, “Metaphor: ReFantazio” chega como um aviso de que nem tudo precisa ser grandioso para ser espetacular. O título foi desenvolvido pelo estúdio japonês Atlus, que também é responsável pelas franquias “Shin Megami Tensei” (SMT) e “Persona”; e foi publicado pela Sega. O LeiaJá teve a oportunidade de testar o jogo na sua versão de Xbox Series X/S.

Não é de hoje que a Atlus é reconhecida pelo seu talento em JRPG (termo utilizado para definir os games do gênero RPG de origem japonesa), mas desde 2017, com o lançamento de “Persona 5”, que o estúdio tem apresentado uma evolução constante em seus produtos. Isso não só agradou os fãs fiéis, como também ajudou a alcançar novos jogadores que nunca haviam experimentado nenhum título do estúdio. Além disso, o lançamento de “Persona 3 Reload” e “SMT V Vengeance” com localizações em português, também serviram para quebrar a barreira que afastava muitos brasileiros desses jogos.

Diante disso, “Metaphor: ReFantazio” traz todo o repertório que a Atlus acumulou nos últimos anos e entrega uma experiência definitiva de JRPG, que é ideal tanto para aqueles que estão acostumados com o gênero, quanto para aqueles que desejam iniciar neste tipo de jogo. Vale destacar que diferente de “SMT” e “Persona” que compartilham o mesmo universo, este game se trata de uma nova franquia, que com exceção das semelhanças no gameplay, não possui nenhum tipo de ligação com os demais títulos do estúdio.

A narrativa  

Assim como em outros jogos da Atlus, acompanhar a história de “Metaphor: ReFantazio” é uma experiência semelhante à de assistir a um anime e é bom que o jogador esteja preparado, pois o estúdio não economizou nas linhas de diálogos e cenas animadas, que muitas vezes passarão a impressão de que o jogador mais assiste e ler, do que joga. No entanto, o enredo não gira em torno de estudantes colegiais, que precisam cumprir com suas tarefas diárias e salvar o mundo no tempo livre. “ReFantazio” adota uma temática medieval, com personagens que precisam sobreviver em um mundo carregado de preconceitos.

Todo esse aspecto pode ser observado no protagonista sem nome (ao qual o jogador nomeia logo no início da jornada), que pertence a uma raça chamada Elda e sofre de preconceitos pesados, aos quais muitas vezes vão impedi-lo de comprar produtos em uma loja, por exemplo. Algo que chama a atenção em “Metaphor: ReFantazio”, é que desta vez, o personagem principal possui voz e conversa com os outros membros do time, algo que não acontecia em “SMT” ou “Persona”, que adotava a fórmula do protagonista mudo (este recurso era conhecido em títulos antigos, pois visava trazer uma sensação de que o personagem era o próprio jogador incluso naquele universo).

Não demora muito para ser revelado que o protagonista está em uma missão para reverter uma maldição aplicada no príncipe do reino, que também é seu amigo. Para piorar a situação, o rei foi assassinado e agora ninguém da família real está disponível para uma possível sucessão. Após diversos eventos, é revelado que antes de morrer, o rei havia preparado uma magia que impedia que alguém tomasse o trono a força e garantia que o próximo monarca fosse escolhido por meio do grau de popularidade.

Graças a essa magia, qualquer pessoa naquele mundo possui chances de se tornar  o próximo rei, independentemente de sua raça ou classe social. Por conta disso, o protagonista também se torna um candidato e decide concorrer na disputa pelo trono, para impedir que o assassino do rei, Louis Guiabern, chegue ao poder. Agora cabe ao jogador realizar ações que elevem o seu grau de popularidade, como por exemplo, cumprir tarefas para outros personagens e participar de debates contra os seus adversários, o que faz deste o game mais político de todo histórico da Atlus.

O combate e os arquétipos

Quem já está acostumado com “SMT” e “Persona” não terá muitas dificuldades para entender o gameplay de “Metaphor: ReFantazio”, uma vez que a base instalada é a mesma. Por outro lado, os novatos podem se sentirem intimidados no primeiro momento, já que são diversos aspectos a serem observados. Felizmente, todos eles são bem detalhados e não é necessário mais do que algumas horas para se adaptar a toda dinâmica do game. A localização em português brasileiro também facilita a compreensão.

O sistema de combate conta com um formato clássico por turno (provando que esse estilo ainda possui espaço em jogos atuais), onde é preciso planejar cada uma das ações e fazer com que a jogada seja proveitosa. Os tipos de habilidades são os mesmos vistos em outros jogos da Atlus: corte, perfurante, força, fogo, gelo, raio, vento, luz e trevas. Cada inimigo poderá ter resistência ou fraqueza contra algum destes elementos e o mesmo vale para os heróis controlados.

Assim como existiam as criaturas chamadas de Persona, na franquia de mesmo nome, em “Metaphor: ReFantazio” existem os arquétipos, que são lembranças de antigos heróis, aos quais emprestam suas forças para os protagonistas desta jornada. Ao despertar um arquétipo, o personagem pode manipular magia sem a necessidade de utilizar um “ignitor” (itens comuns neste mundo, que permitem que pessoas normais utilizem magias elementares).

Os arquétipos podem ser liberados de maneiras diferentes, uma delas é por meio do avanço da própria história, já que o despertar dessas formas representa uma parte significativa da narrativa. Contudo, o jogador também pode evoluir seus arquétipos por meio das batalhas ou adquirir novos, conforme fortalece seus vínculos com outros personagens do game.

Uma vez que um arquétipo é adquirido, ele será destinado a um personagem, mas ele pode ser alocado para outros integrantes da equipe por meio da “Árvore de Arquétipos”, só que para isso será necessário usar os pontos de “MAG” adquiridos durante os combates. Cada personagem vai assumir as características do seu arquétipo equipado, o que inclui o seu estilo de combate, resistências e fraquezas.

Durante o combate, o jogador terá algumas opções para utilizar no seu turno e atacar o inimigo, entre elas, estarão disponíveis as magias dos arquétipos, os golpes corpo a corpo e também a síntese, que se trata da combinação de dois arquétipos que estejam presentes no grupo. Vale destacar que atingir a fraqueza do inimigo garantirá um turno extra (essa regra também é válida para o adversário).

Além dos ataques, também é possível optar por se defender (reduzindo o dano causado pelo inimigo) ou utilizar algum item de cura no grupo. Outra característica do combate, é que o jogador pode posicionar seu personagem mais a frente, o que resultará em ataques mais efetivos, mas também o deixará mais vulnerável; ou atrás, o que o tornará mais resistente, porém com menos força nos golpes.

Seja popular e mais forte

Um dos aspectos que mais chamam atenção em “Metaphor: ReFantazio” é a corrida pelo trono que seu personagem terá que fazer ao longo da jornada e como em qualquer campanha política, ele necessitará do máximo de apoio possível da população. Por conta disso, além de explorar masmorras e enfrentar monstros, o jogador também precisará gerenciar o tempo para cumprir algumas tarefas secundárias e fortalecer suas relações sociais. Semelhante ao que ocorre em “Persona”, onde cuidar das atividades escolares e ter uma boa convivência com os amigos era tão importante quanto derrotar os inimigos.

Aqui o jogador poderá cumprir alguns pedidos feitos por personagens que estão espalhados no mapa ou passar um tempo com os amigos, que também são apoiadores em potencial. Essas relações vão fortalecer as competências sociais, que são divididas em Coragem, Sabedoria, Tolerância, Eloquência e Imaginação. Já os vínculos com os amigos ajudam a obter novos arquétipos e também contribui para o desempenho em batalha de determinado personagem.

Algumas das tarefas (principais ou secundárias) possuem um tempo para serem concluídas e este prazo limite pode ser visualizado no calendário do game, que é outra característica herdada da franquia “Persona”. Entretanto, “Metaphor: ReFantazio” não utiliza o clássico calendário universal  e aqui, uma semana é composta por apenas cinco dias, chamados de Flama-feira, Água-feira, Bosque-feira, Metal-Feira e Ócio-Feira. Na prática, essa alteração não traz nenhuma mudança significativa, mas adiciona um ar de individualidade para o mundo do jogo.

Vale a pena?

“Metaphor: ReFantazio” pode não ser um título feito a partir de um grande investimento, mas consegue entregar com maestria todos os aspectos esperados de um videogame, como uma história envolvente e um gameplay que mescla complexidade com praticidade de maneira eficiente. Em quesitos gráficos, o título passa longe do realismo, mas traz uma direção de arte capaz de deixar os fãs de animes mais exigentes alucinados.

O título é a prova de todo o amadurecimento que a Atlus teve nos últimos anos e reúne tudo que ela fez de melhor nas franquias “SMT” e “Persona”, mas em um game totalmente independente. Diante disso, “Metaphor: ReFantazio” consegue deixar uma forte marca em 2024, ao lado de diversos jogos consagrados, como “Black Myth: Wukong”, “Final Fantasy VII Rebirth” e o remake de “Silent Hill 2”. A aventura está disponível para PS5, PS4, Xbox Series X/S por R$349,90; e para PC por R$299,90.

*Colaboração de Alfredo Carvalho para o LeiaJá