A ascensão da política digital: como as redes sociais moldam novas lideranças
Novos politicos ganham força nas redes sociais
março 19, 2025 - 4:44 pm

Foto: Arquivo LeiaJá/Júlio Gomes
A forma de fazer política tem evoluído constantemente, acompanhando as transformações da sociedade e o avanço das tecnologias. Nos últimos anos, a construção da imagem pública de políticos tornou-se essencial para alcançar eleitores e propagar ideias e discursos.
Um exemplo marcante desse fenômeno ocorreu em 2018, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro se elegeu com uma campanha fortemente impulsionada pelas redes sociais. Seu nome dominava o ambiente digital, tanto por apoiadores quanto por críticos, gerando altos índices de engajamento.
Essa estratégia se repetiu nas eleições municipais de 2020, com destaque para o atual prefeito do Recife, João Campos (PSB), que se tornou um dos prefeitos mais seguidos do Brasil. Com vídeos bem produzidos, mostrando o avanço das obras na cidade e promovendo suas ações na prefeitura, Campos adotou uma linguagem moderna, voltada para o público jovem. Assim, conquistou uma base fiel de eleitores e popularizou o bordão “meu prefeito”.
O sucesso dessa abordagem garantiu a João Campos uma reeleição tranquila em 2024, sem grandes concorrentes. Sua campanha eleitoral apostou no Carnaval e na entrega de obras esperadas há anos pelos recifenses, como a Ponte do Monteiro, que liga a Zona Norte à Zona Oeste da cidade.
O impacto das redes sociais na política
Para entender essa nova forma de comunicação política, o LeiaJá entrevistou o especialista em marketing político Elias Tavares.
“Percebo uma mudança latente na comunicação política, que vem acontecendo desde 2008 com o crescimento do meio digital. Hoje, a internet e as redes sociais se transformaram no principal tabuleiro de xadrez da política, democratizando o acesso à informação e permitindo que os políticos falem diretamente com seu público, exponham suas ideias e interajam de maneira mais próxima”, explica Tavares.
Segundo ele, a estratégia de João Campos influencia outros prefeitos pernambucanos a adotarem métodos semelhantes. Um exemplo disso é Pedro Freitas, prefeito de Aliança, que, neste Carnaval, chegou a platinar o cabelo em referência ao visual de Campos em 2024.

Para Tavares, a presença digital é essencial para qualquer candidatura: “É possível vencer uma eleição totalmente pelo digital? Sim. Mas é muito difícil se eleger apenas com a estratégia tradicional. A tendência é que todos os políticos migrem para o digital de alguma forma.”
Além de fortalecer candidaturas, o uso das redes sociais tem sido uma forma eficaz de engajar os jovens eleitores. A cientista política Fernanda Negromonte destaca a importância desse movimento:
“Trazer o público para entender como funciona a gestão pública tem sido um passo importante. João Campos tem sido recompensado com popularidade por fazer isso. A gente sabe que as gerações mais recentes têm um alto índice de apatia política: não se engajam em movimentos, não se preocupam, pois desacreditam da política. Isso gera um distanciamento e uma falta de responsabilidade sobre suas escolhas eleitorais. Por isso, os jovens precisam ocupar espaços públicos e se envolver em pautas políticas para garantir que políticas públicas sejam realmente voltadas para suas necessidades.”
O efeito das redes sociais nas novas lideranças
A eleição municipal de 2024 trouxe exemplos claros do impacto digital na política. A vereadora Kari Santos (PT), por exemplo, chegou à Câmara Municipal com mais de 300 mil seguidores em suas redes sociais e se destacou pela sua militância no partido.
Já pela direita, Thiago Medina, do Partido Liberal, foi eleito aos 21 anos, tornando-se o vereador mais jovem da cidade, com 85 mil seguidores. Ele defende pautas conservadoras e reforça a influência do marketing digital na política.
No cenário nacional, Elias Tavares aponta Nicolas Ferreira (PL-MG) como um dos principais exemplos dessa nova dinâmica. O deputado federal domina a comunicação digital e se conecta diretamente com seu público-alvo.
“Ele foi o deputado mais votado de Minas Gerais e já conseguiu influenciar pautas nacionais, como no caso do Pix, quando um de seus vídeos levou o governo federal a reavaliar medidas. A tendência é que essa estratégia continue forte, mas com rotatividade. Algumas figuras ganharão destaque enquanto outras perderão relevância, à medida que o público muda de interesse e os desafios políticos evoluem. Os políticos que conseguirem equilibrar o digital com a construção de capital político tradicional terão vantagem. Se essa fusão se consolidar, veremos, no futuro, candidaturas viáveis para cargos maiores, como governador e até presidente, impulsionadas pelo digital”, analisou.
O modelo digital pode se esgotar?
Sobre um possível desgaste dessa estratégia, Tavares faz uma ressalva: “A saturação pode ocorrer para políticos que se sustentam exclusivamente na internet, sem construir uma base política real. Os chamados ‘políticos de internet’, que não têm trabalho consolidado fora do digital, podem enfrentar dificuldades quando o público passa a exigir resultados concretos. No legislativo, esses políticos digitais continuarão tendo espaço, assim como bancadas já consolidadas, como a evangélica e a da segurança pública. Mas ainda não sabemos se a internet será capaz de eleger sozinha uma maioria no Congresso ou até um presidente da República”, explicou.
Ele ainda destaca que prefeitos como Pedro Freitas (Aliança-PE) e Diego Cabral (Republicanos) adotam estratégias híbridas, mesclando o digital com a construção de bases políticas locais. Para Tavares, esse modelo é mais sustentável do que o de políticos que apostam apenas no engajamento online.
O futuro da política digital segue em transformação, mas uma coisa é certa: as redes sociais não são mais apenas um complemento, e sim um pilar fundamental para qualquer candidato que deseja se manter relevante no cenário político.