Polícia investiga “rachadinha” no gabinete da vereadora Elaine Cristina, do Recife

Esquema seria liderado pela própria vereadora, ao lado da chefe de gabinete, Girlana Diniz

Polícia investiga “rachadinha” no gabinete da vereadora Elaine Cristina, do Recife

Vereadora Elaine Cristina (PSOL) é suspeita de integrar esquema de “rachadinha” na Câmara do Recife. Foto: Reprodução/Instagram

A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) está investigando uma suspeita de “rachadinha” no gabinete da vereadora do Recife Elaine Cristina (PSOL). A prática consiste em repassar para o parlamentar parte do salário dos assessores. Neste caso, a própria vereadora lideraria o esquema, junto à chefe de gabinete, Girlana Diniz. A informação é do coletivo de jornalismo investigativo Marco Zero nesta sexta-feira (1º).

A reportagem divulgou dois áudios, enviados pelo WhatsApp, em que a legisladora surge dando instruções aos funcionários sobre como transferir os valores. Em um deles, Elaine deixa claro que não pode receber os repasses na conta bancária registrada no próprio nome. “Vou dar outra conta para tu transferir, que a minha não pode ser”, afirmou.

Os valores dos repasses variaram de R$ 3 a R$ 4 mil por mês, a depender da remuneração do assessor. A denúncia de rachadinha se baseia nos relatos de seis ex-assessores da vereadora, que confirmaram o esquema.

Através de áudios e troca de mensagens, Cristina instrui os funcionários a como transferir os valores cobrados, que variam entre R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês, a depender da remuneração e cargo do assessor. Na Câmara do Recife, Elaine Cristina cumpre mandato desde o início de 2023, recebendo salário de R$ 19 mil por mês como vereadora, além do cartão alimentação de R$ 1.785.

Os áudios

Nos áudios, Elaine instruía sobre os repasses e entrega do dinheiro. “Olha na tua conta salário, porque aí você vai ver onde tá. E tem que ir diretamente no banco porque o valor que você vai tirar é alto. E aí eu levo você e lhe acompanho, mas abra aí a conta salário”, disse a vereadora. “Mas deixa eu dizer uma coisa a tu: transfere para a tua conta corrente do Banco do Brasil, porque aí fica mais fácil de tu fazer transferência. Girlana vai colocar”, continua.

Em mensagens obtidas pelo Marco Zero, Girlana Diniz define que o salário do cargo é de R$ 4 mil, indicando a devolução dos R$ 3,3 mil restantes do valor integral pago aos assessores. A colabora que troca mensagem com a chefe de gabinete questiona a remuneração, afirmando que recebia R$ 4,4 mil quando era funcionária terceirizada na Casa de José Mariano. Após a queixa, Diniz aumenta o salário para R$ 4,3 mil, com um repasse de R$ 3 mil.

Vereadora e PSOL se posicionam

O LeiaJá buscou a Polícia Civil para obter informações sobre a investigação, mas não teve retorno até o momento desta publicação. Em nota, a vereadora Elaine Cristina configurou as denúncias como “ataques e violência política” e como uma tentativa de desqualificá-la politicamente. A parlamentar afirmou, ainda, que as acusações visam prejudicar “todo o conjunto de profissionais, majoritariamente negras e negros que permaneceram no gabinete”.

A reportagem também buscou a assessoria do PSOL Pernambuco, que disse ter protocolado a denúncia no Comitê de Ética do partido para apurar a situação de Cristina. A legenda reafirmou que não compactua com a corrupção na política brasileira e que não “irá mudar de posição” neste caso. Confira abaixo os posicionamentos na íntegra.

Íntegra do posicionamento de Elaine Cristina

“Assumi o mandato no início do ano de 2023. Como é de conhecimento, este foi marcado inicialmente por uma ruptura interna. Mesmo assim, optei por manter a equipe, inclusive os membros que não foram indicados por mim, entendendo a importância daquela composição. O grupo tinha sido escolhido por ser formado por pessoas negras, vindas da periferia, igual a mim. Muitas (os) com a oportunidade para o primeiro emprego.

Porém, com o passar dos meses, num processo natural de avaliação, optei pela exoneração de algumas pessoas, motivadas por posturas não condizentes com o propósito da mandata e o compromisso político e profissional que a Câmara Municipal do Recife demandava.

Essas exonerações provocaram uma série de ataques pessoais, vindos das pessoas exoneradas que me obrigaram a tomar medidas judiciais. Contudo, tudo foi mantido em sigilo porque o meu foco era dar continuidade ao trabalho legislativo e ao fortalecimento da população do Recife. Nesse período, intensificamos um conjunto de ações legislativas com o propósito de melhorar a vida dessas pessoas, principalmente a população LGBTQIAPN+, as famílias atípicas, a cultura popular e povos de terreiro.

Recebo esses questionamentos, não com surpresa, uma vez que não é de agora que venho sofrendo ataques e violência política, numa tentativa de desqualificação da minha atuação como política e da importância da Mandata conduzida por mim. Essa prática não só visa atingir a mim, mas a todo o conjunto das(os) profissionais, majoritariamente negras e negros que permaneceram no gabinete.

Há que se questionar a quem beneficiará essas supostas denúncias? Reiteramos nosso compromisso com a verdade, a boa política e honestidade que permeiam o exercício de pleito popular de dar assento a uma mulher negra, periférica e que luta pelos Direitos Humanos.”

Posicionamento do PSOL

“Diante das denúncias envolvendo a parlamentar Elaine Cristina, o Partido Socialismo e Liberdade em Pernambuco informa que irá protocolar as informações no Comitê de Ética do partido, a fim de apurar as denúncias, com garantia do contraditório e da ampla defesa. O PSOL é conhecido por sua rigidez ética e assim continuará sendo.

O partido reforça seu compromisso histórico com a ética, a transparência e o respeito ao Erário Público. Nunca compactuamos com as práticas corruptas que permeiam a política brasileira. Não será agora que mudaremos nossa posição. Não aceitaremos qualquer tipo de desvio de conduta.

Negritamos que nosso compromisso é com a construção de uma política transparente, responsável e, sobretudo, que esteja ao lado dos setores oprimidos da sociedade. Tomaremos todas as medidas necessárias para garantir que qualquer suspeita seja investigada de maneira justa e rigorosa.

Seguiremos acompanhando o caso.

PSOL-PE
31 de outubro de 2024″