Manifestantes se reúnem em ato de repúdio ao golpe de 64 e criticam silêncio do governo federal 

Ato de repúdio à ditadura militar no Brasil teve a presença de movimentos sociais, políticos e militantes, reivindicando punição de generais

Manifestantes se reúnem em ato de repúdio ao golpe de 64 e criticam silêncio do governo federal 

Monumento Ditadura nunca mais, no Recife. Foto: Guilherme Gusmão/LeiaJá

Manifestantes de diversos movimentos sociais e políticos se reuniram, nesta segunda-feira (1º), em um ato de repúdio, a nível nacional, contra o golpe militar de 1964, que culminou em um período ditatorial no Brasil por mais de 20 anos. No Recife, a movimentação aconteceu em frente ao monumento Ditadura Nunca Mais, na Rua da Aurora, no centro da cidade. Representantes políticos e de grupos sociais estiveram presentes. 

É o caso de Chico Mello, integrante do partido político Unidade Popular (UP) e do Jornal A Verdade. Vestindo uma camisa amarela com a foto de Manoel Aleixo estampada, militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que desapareceu durante o regime militar, Chico comenta algumas das razões que unem todos os participantes do ato de repúdio.  

Ato de repúdio à ditadura militar no Brasil teve a presença de movimentos sociais, políticos e militantes, reivindicando punição de generais
Manoel Aleixo, vítima da Ditadura militar. Foto: Guilherme Gusmão/LeiaJá

“O PCR ainda carrega bandeiras pela punição dos generais golpistas, dos fascistas que cometeram o assassinato não só de Manoel Aleixo, como de Manuel Lisboa de Moura, Amaro Luiz de Carvalho, Amaro Félix e tanto outros companheiros e companheiras que compuseram a fundação e a luta do PCR. Não só em Pernambuco, mas a nível nacional, que foram brutalmente perseguidos, torturados, assassinados pela ditadura militar fascista, e até hoje carregam essa história de luta, que representa muito pro nosso povo, que ainda tem que resistir atentados contra a nossa democracia”, explicou. 

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“Nós temos direito de imprensa, nós temos direito de protesto, de qualquer posição política, nós temos direito ao voto, a soberania do voto popular que se impõe inclusive pra aqueles inconformados. Nós temos a possibilidade de expressar nossas ideias, expressar nossa fé religiosa, expressar a nossa posição. Então, isso é democracia”, disse. 

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Manifestantes criticam silêncio do governo federal a ato de repúdio 

Um dos pontos mais criticados por diversos participantes foi o silêncio do governo federal sobre o período do regime militar, imposto pelo presidente Lula (PT). Tendo vivido todos os anos de chumbo como militante político e contrário aos interesses militares, a posição escolhida pelo petista contrasta com a efervescência de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).  

“Isso infelizmente é um limite dessa forma de governabilidade que esse governo se compromete a fazer. A social-democracia demonstra seus limites estruturais mesmo, de conciliação de classe. A gente tem uma luta de classes cada vez mais acirrada nesse atual momento de crise que o capitalismo tá perpassando, não só no Brasil, mas no mundo inteiro”, avalia Mello. 

“O fascismo é o resultado disso. E o fascismo coloca esse tipo de governabilidade social-democrata nos seus limites. Isso atingiu seus limites agora com o governo Lula declarando que está proibido das suas bases de irem às ruas repudiar esses 60 anos do golpe militar fascista no Brasil. E nós estamos aqui hoje realmente repudiando também essa escolha de não ir às ruas e deixando claro que se continuar dessa maneira a gente tem inevitavelmente outras formas de governo fascista que vem pela frente para além de Jair Bolsonaro”, declarou. 

Críticas também vêm da base 

De acordo com Camila Falcão, assessora do Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco (SEEPE) e participante da coordenação estadual do Movimento de Luta de Classes (MLC), o silêncio do governo atual é um ponto a ser criticado.  

“Muito ruim. Na verdade, a gente precisa puxar o governo pra esquerda. Apesar de ser um governo muito mais progressista que o anterior, isso sem dúvida. Muitos de nós, a maioria que tá aqui foi pras ruas, principalmente no segundo turno, pra eleger Lula. Mas essa posição de fazer aliança com o centrão, de fazer aliança com alas que ajudaram a dar o golpe em Dilma em 2016, e que fizeram todo o desastre que foi o governo fascista de Bolsonaro. Não exigir, não minar os atos que vêm acontecendo. Porque de certa forma, nem o governo se pronuncia, e minou várias dessas organizações no Brasil. Agora é muito ruim”, declarou Falcão. 

No entanto, ainda lhe resta uma ponta de esperança em um possível posicionamento do presidente da República, referente a um ato de repúdio contra o golpe de 64. 

“Ainda dá tempo, o mês de abril ainda está aí todo pra correr pra ele e voltar atrás e se manifestar e dizer que é a favor da justiça da reparação e que de fato os nossos heróis precisam ser ressaltados e precisam ter suas vidas e suas histórias divulgadas pra população, porque muitos de nós não conhecem essa história, e é papel sim do governo fazer isso”, afirmou.

*Com informações do repórter Guilherme Gusmão