Raquel Lyra e as incansáveis disputas na Alepe
As disputas entre a governadora e a Casa Legislativa, presidida por seu correligionário Álvaro Porto, apenas marcam, mesmo que não sucedidas
março 4, 2024 - 6:14 pm

Álvaro Porto e Raquel Lyra, ambos do PSDB. Foto: Divulgação
Não é de hoje que as disputas de poder entre a governadora Raquel Lyra (PSDB) e o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Álvaro Porto (PSDB), ganham destaque. O último episódio, marcado por polêmica e constrangimento, se deu no dia da abertura das atividades legislativas na Casa. Na ocasião, um áudio vazado no microfone da mesa diretora expunha a opinião de Porto sobre o discurso da gestora estadual. Apesar do pedido de desculpas, a relação entre os dois atores políticos pareceu permanecer mais distante do que antes.
Para além de opiniões vazadas de microfones, o cenário nada mais é do que uma disputa de visibilidade e de poder de influência. De acordo com o cientista político Arthur Leandro, existem problemas estruturais que transparecem como atritos pessoais. “Haver diferença de interesses entre atores políticos é normal em qualquer regime. Na democracia, inclusive espera-se que essas diferenças sejam evidenciadas”, ponderou.
Em entrevista ao LeiaJá, o cientista político elencou alguns desses “problemas estruturais” que acentuam os atritos existentes entre os poderes Executivo e Legislativo em Pernambuco.
Disputas pela base de apoio
Um primeiro problema pontuado é o fato de que a governadora não possui uma base de apoio, desde a época das eleições de 2022, como observa o especialista. “A governadora, se a gente se lembra das condições em que foi eleita, não tinha uma militância própria expressiva. (Tampouco tinha) um arco de alianças políticas com lideranças locais, estaduais, capazes de credenciá-la à eleição. Então ela passa para a eleição em segundo lugar basicamente em função de um meio campo meio embolado na disputa”, pontua.
Nas eleições de 2022, Lyra passa para o segundo turno contra a candidata Marília Arraes (Solidariedade). No entanto, sua vitória nas urnas acontece após a composição na Alepe, com seus deputados eleitos. O que leva ao segundo ponto apresentado por Leandro.
Álvaro Porto demonstra poder na Alepe
As tentativas de Raquel Lyra em demonstrar poder de influência, apesar de ser a gestora estadual, perpassa alguns obstáculos. Esse aspecto difere do parlamentar, que conseguiu, por exemplo, se reafirmar como presidente da Alepe ainda no ano passado. À época, a eleição da mesa diretora para o biênio 25-26 balançou um pouco mais os ânimos, mas garantiu a permanência de Porto na cadeira.
Essa jogada fez, de acordo com Arthur Leandro, “com que a governadora tenha que conviver na verdade com um político em um quadro que já se revelou, claramente, estar na oposição à liderança da governadora, pelos quatro anos do seu mandato”.
Em uma demonstração constante de poder, Porto se coloca como uma liderança do legislativo, como explica o cientista político. “O presidente não está sozinho, na verdade quando ele comprou essa briga com a governadora. Ele se credenciou numa posição de liderança dos outros deputados, basicamente porque ela tem dificuldade digamos assim de penetrar, sob o escudo, sobre o domo da alepe e fazer a negociação com as lideranças das bancadas e com os deputados”, afirmou.
Pedido de impeachment?
Apesar de haver pedidos e comentários sobre a remoção da governadora do poder, o cientista político afirma que não há risco real, diante do que se entende como uma razão plausível para isso. “Não existe um ambiente político pra se pedir o impeachment da governadora. Nem existe crime cometido e nem existe apoio das bancadas no sentido de promover o afastamento compulsório da governadora”, finalizou.