Lula vem ganhando o Centrão em seu novo mandato

O presidente usa da experiência e do poder de articulação para amenizar as pressões do bloco

Lula vem ganhando o Centrão em seu novo mandato

A movimentação pelas eleições municipais do próximo ano já agita os bastidores do Congresso e o Centrão vem pressionando por mais espaço no governo federal. Mesmo sem ceder aos principais anseios do bloco, o presidente Lula (PT) precisou demonstrar sua capacidade de articulação para domar os partidos da base e aliviar o bolsonarismo. 

Após quase oito meses de mandato, o Centrão já tentou assumir os Ministérios da Saúde e dos Esportes, de Nísia Trindade e Ana Moser, e vem negociando o comando de secretarias importantes, com grande aporte financeiro, para investir em 2024. Em um momento de aprovações importantes na Câmara e no Senado, o presidente abriu algumas concessões, mas, no geral, não deixou a corda esticar. 

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A cientista política Priscila Lapa concorda que Lula vem mantendo clareza na escolha das grandes pastas, como prometido na campanha, e que a maioria do Câmara bolsonarista pode ter travado o início da sua nova gestão em alguns momentos.  

“A impressão é de que ele estava se situando dentro do novo contexto político do país. Ao mesmo tempo que tem clareza de que precisa sinalizar para sua base de apoio, mantendo as escolhas ministeriais, precisa começar a enfrentar os termos dessa relação com o Centrão. Acredito que ele estava esperando o ‘time’ para as ações, uma vez que o Centrão ainda estava muito atrelado ao bolsonarismo”, observou a analista.  

Sem dúvidas, um dos pontos-chave para que Lula marcasse posição foi a operação da Polícia Federal contra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e seus assessores. Priscila entende que as investigações deram espaço para que o presidente estreitasse a relação com as lideranças do bloco. 

“Lira se enfraqueceu muito perante a opinião pública, mas não perdeu o apoio dos pares, o que abriu a oportunidade para aproximação do presidente Lula”, pontuou. 

Sem dúvidas a relação com o Centrão é caracterizada por altos e baixos. Foi assim com todos os presidentes, que precisaram enfrentar ou negociar com seus representes no Legislativo. 

Entre os riscos e benefícios de ter o Centrão como aliado, a cientista acredita que Lula deve impor limites para não implodir seu apoio popular. “Lula precisa ter muito jogo de cintura, está num momento crucial para essa relação com o Congresso para se fortalecer, mas é preciso não melindrar as bases de apoio popular, de partidos e pautas que são muito caras para seu eleitorado cativo, como a representação feminina”.