Arcebispo da Olinda e Recife relembra encontros com o papa Leão XIV e espera papado mais conservador

Dom Paulo Jackson já tem reencontro marcado com o papa Leão XIV em Roma e avaliou como deve ser o papado do novo pontífice

Arcebispo da Olinda e Recife relembra encontros com o papa Leão XIV e espera papado mais conservador

Dom Paulo Jackson comentou sobre o resultado do conclave nesta sexta-feira (9). Foto: Victor Gouveia/LeiaJá

O arcebispo de Olinda e Recife, dom Paulo Jackson, relembrou, na manhã desta sexta-feira (9), os encontros que teve com o novo papa. Em sua avaliação sobre a decisão do conclave, dom Paulo acredita que Robert Francis Prevost vai seguir uma linha um pouco mais conservadora que a de Francisco I.

No início deste ano, o norte-americano recebeu o arcebispo dom Paulo Jackson e a comitiva da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como prefeito do Dicastério para os bispos em Roma. A Presidência da CNBB também cumpriu a agenda em 2024.

Presidência da CNBB em Roma com o arcebispo Robert Prevost, então prefeito do Dicastério para os bispos. Foto: Divulgação/CNBB

Dom Paulo também lembra com carinho de quando conheceu o pontífice. Em 2023, os dois participaram da Assembleia do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho) em San Juan, em Porto Rico.

“É um homem simples, de poucas palavras, bom ouvinte, escuta muito e fala de modo muito assertivo e ponderado. Fiquei muito feliz”, descreveu o arcebispo, que caracterizou o papa Leão XIV como um religioso aberto e de teologia arejada.

“Nós nos sentamos à mesma mesa na hora das refeições várias vezes. A impressão que eu tenho dele é de um homem muito tímido, de poucas palavras. Ele escuta muito, é um bom escutador, um bom ouvinte e fala de modo muito assertivo, de modo muito pontual”, recordou ao destacar o profundo apreço do novo papa à Igreja do Brasil e do seu bom português.

O primeiro encontro de dom Paulo Jackson com o novo papa está marcado para o próximo Dicastério, em janeiro de 2026. No entanto, esse reencontro pode ser antecipado para o próximo mês.

“Em janeiro de 2026 é certeza. Estou definindo e discernindo se irei para o jubileu dos bispos no próximo dia 29 de junho, em Roma”, mencionou.

Dom Paulo Jackson também comentou sobre a relação do 1º papa norte-americano com o presidente Donald Trump. Foto: Victor Gouveia/LeiaJá

Papado mais conservador

Pelo que conhece de Leão XIV, dom Paulo Jackson espera um papado de continuidade e afinado a Francisco. Contudo, acredita em uma linha pouco mais conservadora em relação a assuntos polêmicos para o Vaticano.


“Profundamente em sintonia com as grandes intuições do papa Francisco, mas ao mesmo tempo, alguém não se torna papa sem ter uma originalidade. Ele é muito aberto às questões sociais, embora tenha algumas diferenças com Francisco no campo dos costumes e da moral sexual e familiar. Ele parece ter posturas distintas em relação aos casais homoafetivos, parece ter postura distinta aos casais em segunda união. Então, vamos esperar para ver qual a orientação que ele vai dar para Igreja no mundo todo”, observou.

A própria escolha do nome indica a afinidade do papa Leão XIV com o amigo e antecessor. O arcebispo vê uma alusão ao frei Leão, amigo próximo de São Francisco de Assis. Uma clara analogia à amizade do então cardeal Prevost com o papa Francisco.

Em outro sentido, o nome naturalmente homenageia Leão XIII, precursor da doutrina social na Igreja Católica no fim do século XIX. Leão XIII encarou a problemática operária e escreveu a encíclica Rerum Novarum “Coisas Novas”, que trata sobre o equilíbrio entre as aspirações capitalista e comunista.

1º papa norte-americano

Natural de Chicago, nos Estados Unidos, Robert Prevost deve equilibrar a presença católica em um país majoritariamente protestante.

“Ele vem do país mais rico do mundo, mas ao mesmo tempo teve sua experiência eclesial curtida no interior de uma diocese do Peru. Creio que essa experiência marcou profundamente a vida dele, tanto que ele falou em espanhol dirigindo-se diretamente a sua pequena diocese”, refletiu dom Paulo Jackson.

A fala em latim e espanhol foi simbólica. Ao evitar adotar a língua materna em seu primeiro pronunciamento, o papa Leão XIV respondeu de forma sintomática à figura do presidente Donald Trump.

“Como norte-americano, ele sabe quem é Donald Trump. Então, ele sabe que está pisando em ovos e vai procurar impostar o relacionamento a partir daquilo que ele mesmo disse: “pontes e diálogo”. Mas não sabemos como, na prática, será o relacionamento da Santa Sé e do próprio Papa Leão XIV com os Estados Unidos e com o presidente Trump”, avaliou o arcebispo.

“É sintomático que ele tenha falado em espanhol. Possivelmente, ele não quis tocar no outro tema, falar em inglês ou, de algum modo, citar os Estados Unidos para evitar sensibilidades maiores e esperar um pouco mais para que o caminho seja pavimentado até que o diálogo seja estabelecido” concluiu.