800 adolescentes foram baleados em 7 anos no Grande Recife, diz relatório do Fogo Cruzado
O número alarmante equivale a uma média de dez adolescentes baleados por mês
abril 24, 2025 - 1:06 pm

Nos últimos sete anos, 800 adolescentes entre 12 e 17 anos foram baleados na Região Metropolitana do Recife. O número alarmante equivale a uma média de dez adolescentes baleados por mês, revelando um cenário de violência armada que atinge, de forma sistemática, a juventude da região. Os dados foram reunidos pelo Instituto Fogo Cruzado, que lançou, nessa quarta-feira (24), a plataforma www.800namira.com.br, com informações detalhadas sobre os casos registrados entre 1º de abril de 2018 e 9 de abril de 2025.
Mais de 500 adolescentes mortos
Do total de adolescentes atingidos por disparos, os dados apontam que 529 morreram e outros 271 ficaram feridos. As vítimas foram baleadas em diversos contextos: 83 delas dentro de casa, quatro dentro de transportes públicos e duas dentro de unidades de ensino. Em 21 de novembro de 2023, um dos casos mais emblemáticos ocorreu na Escola Estadual José Rodrigues de Carvalho, no Cabo de Santo Agostinho, onde um adolescente foi executado a tiros na quadra da instituição.
A maioria das ocorrências está relacionada a homicídios e tentativas de homicídio (711 casos), sendo 499 mortes e 212 feridos. Também foram registradas mortes em ações policiais (18 adolescentes mortos e 22 feridos), em assaltos (6 mortos e 21 feridos) e por balas perdidas (4 mortos e 25 feridos). Feminicídios e tentativas de feminicídio vitimaram quatro adolescentes do sexo feminino, duas morreram e duas ficaram feridas.
Violência crescente
O ano de 2024 foi o mais violento da série histórica, com 141 adolescentes baleados, 99 mortos e 42 feridos, um número quase três vezes maior do que o registrado em Salvador e sua região metropolitana no mesmo período (53 casos). Para efeito de comparação, o Rio de Janeiro registrou 38 adolescentes baleados e Belém, apenas 12.
O levantamento inclui o caso de Darik Sampaio da Silva, de 13 anos, morto por uma bala perdida. O caso aconteceu em março de 2024, quando o menino foi vítima durante uma perseguição policial, no bairro do Jordão, na Zona Sul do Recife.
Série histórica do Fogo Cruzado:
2018 (a partir de abril): 91 adolescentes baleados — 53 mortos
2019: 109 — 84 mortos
2020: 93 — 57 mortos
2021: 108 — 70 mortos
2022: 118 — 71 mortos
2023: 109 — 74 mortos
2024: 141 — 99 mortos
2025 (até 9 de abril): 31 — 21 mortos
O perfil das vítimas é majoritariamente masculino: dos 800 adolescentes baleados, 731 eram meninos, 500 morreram e 231 ficaram feridos. Entre as 69 meninas atingidas, 29 morreram e 40 ficaram feridas. Cinco adolescentes do sexo feminino estavam grávidas no momento em que foram baleadas; três delas morreram.
“Cenário ameaça a perspectiva coletiva de futuro”
Para Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, os números refletem uma negligência do poder público. “Em Pernambuco, a violência armada atinge os mais jovens de modo geral e, de forma sistemática, adolescentes. Esse é um problema que vem sendo negligenciado pelo poder público, enquanto programas voltados para a prevenção e proteção dessa parcela da população não são priorizados como estratégia de redução de homicídios”, avalia.
Ana Maria reforça que os dados devem servir de alerta para a sociedade e os gestores públicos. “Não é aceitável que um estado tenha entre suas principais vítimas da violência armada indivíduos que mal saíram da infância e que têm seu futuro interrompido. Esse cenário ameaça a perspectiva coletiva de futuro.”
Em 2021, Pernambuco foi apontado pela Rede de Observatórios da Segurança como o pior lugar do Brasil para ser criança ou adolescente, destacando também outras formas de violência como o feminicídio e os abusos ocorridos até mesmo dentro dos lares.
Plataforma para a memória e denúncia
A página lançada pelo Fogo Cruzado reúne os dados de todos os adolescentes baleados na Região Metropolitana do Recife nos últimos sete anos. A iniciativa visa não apenas à transparência, mas também à construção de uma memória coletiva dessas vidas interrompidas, ajudando a combater a naturalização da violência armada contra adolescentes.
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