Estudantes e posseiros ficam feridos em escalada de conflito agrário em Jaqueira-PE

Conflito teve início na manhã do último sábado

Estudantes e posseiros ficam feridos em escalada de conflito agrário em Jaqueira-PE

Imagens: Reprodução/Whatsapp

Posseiros e estudantes ficaram feridos após serem baleados durante confronto com funcionários da empresa Agropecuária Mata Sul, no último sábado (28), no Engenho Barro Branco, zona rural do município de Jaqueira, na Mata Sul de Pernambuco. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que uma estudante foi baleada no pé.

O Comitê de Apoio à Luta dos Posseiros de Barro Branco esteve no local e relatou que o cerco às famílias camponesas teve início por volta das 8h. “Os pistoleiros invadiram as terras com retroescavadeiras, e em torno de 14 picapes, e destruíram 2 sítios dos posseiros, instalaram cercas ao redor também”, relatou um integrante do comitê.

O grupo enviou alguns posseiros e um advogado para tentar mediar a situação. Um dos integrantes do grupo teve o celular furtado e o advogado sofreu agressões. Os camponeses fecharam a via principal que levava aos sítios e utilizaram pedaços de paus e pneus para impedir o avanço das retroescavadeiras.

Estudantes e posseiros ficaram feridos

Por volta das 9h30, a Polícia Militar chegou ao local. A corporação informou, por meio de nota, que tentou buscar uma “solução pacífica” entre as partes em conflito. De acordo com a PM, o ambiente era de tensão, “devido ao grande número de envolvidos”.

O comitê, no entanto, afirma que a polícia compareceu apenas para fazer a proteção dos funcionários. “Ameaçaram os agricultores com suas armas”, declarou o membro do comitê.

“Às 11:30, uma comissão de cerca de 60 estudantes e agricultores de áreas vizinhas chegaram e logo se juntaram à luta”, continuou o relato. Uma estudante levou um tiro no pé e outros posseiros também sofreram agressões. O comitê informou ainda que os funcionários desferiram cerca de 100 disparos.

A polícia informou que não fez uso de arma de fogo, nem de equipamento de menor letalidade. Ao todo, houve cinco feridos, entre estudantes e posseiros, de acordo com a corporação. Por outro lado, o comitê dá conta de três feridos, entre eles a estudantes universitária Ana Cecília.

Às 14h os funcionários saíram do local, devido à pressão dos agricultores. Os feridos foram socorridos e levados a uma unidade de atendimento médico, e passam bem.

Caso do Engenho Barro Branco

A região é conhecida como uma das áreas de maior conflito agrário do Brasil. As ameaças começaram em 2015, vindas da Agropecuária Mata Sul LDTA, contra os posseiros que já ocupam o Engenho há mais de 60 anos.

O contexto envolve a história da Usina Frei Caneca, que funcionou em meados do século XIX, ainda na época da escravidão. A usina veio à falência após a abolição, deixando uma dívida milionária com os trabalhadores e com a União.

O antigo empreendimento, portanto, passou a arrendar lotes, alugando de forma ilegal para posseiros. Era uma maneira de arrecadar verba para quitar as dívidas, mas que nunca foram pagas. Partes da região, no entanto, foram passadas para o latifúndio do agro exportador Guilherme Maranhão, que passou a tentar retirar os posseiros.

A empresa Agropecuária Mata Sul LTDA coleciona uma série de ilegalidades, dentre elas o contrato com uma empresa de segurança ilegal. Os funcionários de segurança patrimonial agem, no entanto, como pistoleiros, ameaçando os moradores portando armas de fogo.