Inaugurado há mais de cinco décadas, Geraldão reitera fama de “meca” do vôlei nacional no Nordeste
Ginásio recebe, neste domingo (28), a final da Superliga
abril 27, 2024 - 8:10 am

Em um espaço de uma semana, Geraldão vai receber as finais das Superligas Masculinas e Femininas. Foto: Edson Holanda/PCR
Inaugurado em 1970, o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, ou simplesmente Geraldão, é considerado a “meca” do vôlei brasileiro no Nordeste. Neste domingo (28), o equipamento escreve mais um capítulo de sua história no duelo entre Sesi Bauru e o Vôlei Renata, de Campinas, válido pela final da Superliga Masculina 2023/2024.
Há uma semana, Minas e Praia protagonizaram a final feminina, fazendo o Recife parar em pleno domingo de manhã. O Minas dominou a partida do começo ao fim e venceu por 3 sets a 1, se tornando hexacampeão.
“Quando tinha jogo da Seleção, seja masculina ou feminina, a gente estava com a ‘turma’ sempre assistindo nas arquibancadas. O Geraldão é, sim, a ‘meca’ do vôlei brasileiro no Nordeste. Um local onde o Brasil sempre se sentiu em casa nas partidas. É o palco dos grandes eventos esportivos aqui no Recife. E o vôlei certamente faz parte desse ‘cardápio’ de eventos”, conta Beto Lago, coautor do livro “Geraldão: o palco dos grandes espetáculos”, de 2023, ao LeiaJá.
A reportagem também ouviu Fortunato Russo, ex-presidente da Federação de Voleibol do Estado de Pernambuco (Fevepe) e um dos grandes fomentadores do esporte no Recife. “Não há dúvidas sobre a importância do ginásio para a modalidade. Basta ver os grandes jogos que aconteceram lá, popularizando ainda mais o esporte na nossa cidade. É possível separar o vôlei brasileiro ‘antes e depois’ do Geraldão.”
Geração de Prata desfila no Geraldão
No caso do Geraldão, a história fala por si só, com jogos memoráveis do Brasil em solo pernambucano. Um dos mais emblemáticos ocorreu na década de 1980, mais especificamente em 1983, quando nomes como Bernadinho (hoje, treinador da Seleção Masculina), Amauri, Xandó, e tantos outros duelaram com a antiga União Soviética. Aquele time ficou conhecido como a “Geração de Prata”, por ter conquistado a medalha nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984).

Naquela mesma época, a Seleção Brasileira também enfrentou a poderosa equipe de Cuba, sempre tradicional no vôlei mundial e “calo” no sapato dos brasileiros, principalmente no feminino. Ali, os atletas plantaram uma semente de paixão do torcedor pernambucano pelo vôlei.
A geração de ouro no “Gigante da Imbiribeira”
O Brasil voltaria ao Geraldão em 1994, quando duelou com o Japão, em amistoso preparatório para a Liga Mundial Masculina de Vôlei. Aquele elenco contava com Marcelo Negrão, que tem uma história de vida no Recife, além de Giovane e Carlão, entre outros, todos sob a batuta do icônico treinador José Roberto Guimarães.

Dois anos antes, em agosto de 1992, a equipe verde e amarela conquistou sua primeira medalha de ouro nas Olimpíadas, em Barcelona. A Seleção surpreendeu o mundo nos Jogos, vencendo equipes como Japão, Coreia do Sul, Equipe Unificada (com atletas de Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Cazaquistão, Armênia e Uzbequistão), e Cuba, bem como a Argélia, chegando à final de forma invicta.
Só deu Brasil em quadra, com os adversários se atrapalhando com si mesmos. O título invicto veio com vitória fácil por 3 sets a 0 sobre a Holanda e colocou o Brasil como uma das principais potências no vôlei mundial.
O bi olímpico em Atenas
Mais tarde, o fruto foi colhido e espalhado. Em 2002, a fase final da Liga Mundial atraiu um mar de pernambucanos ao Geraldão para ver seleções como a da Espanha, da Rússia, da Holanda e, claro, a do Brasil. A amarelinha contava com nomes de respeito na equipe, casos do ponteiro passador Giba, do levantador Maurício, além dos pontas Nalbert e Murilo.

O time foi responsável por colocar o vôlei como a “segunda maior paixão” do brasileiro, atrás apenas do futebol. Em mais uma geração de ouro, venceu as Olimpíadas de Atenas (2004), faturando sua segunda medalha dourada. A terceira e última viria somente nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro.
Outros eventos
No ano seguinte, o ginásio recebeu a fase final da Copa Salonpas de Voleibol feminino. Além da Seleção Brasileira de jovens, equipes do Japão, Porto Rico, Bélgica, Bolívia, bem como o Minas Tênis Clube-MG, o Automóvel Clube de Campos-RJ e o Blue Life/Pinheiros-SP, participaram da competição que passou por Natal, no Rio Grande do Norte, e João Pessoa, na Paraíba, antes de desembarcar no Recife.
Pulando para a atual década, a capital pernambucana recebeu a Supercopa de Vôlei Masculino de 2022. Cruzeiro e Minas travaram um duelo totalmente desequilibrado, com o Cruzeiro vencendo o confronto sem perder um set sequer. Na ocasião, quase 10 mil espectadores foram ao Geraldão prestigiar o evento.
No ano seguinte, 2023, foi a vez dos Campeonato Sul-Americanos Masculino e Feminino. Ao todo, segundo a Prefeitura do Recife, foram 85 mil ingressos comercializados para o evento, que aconteceu na segunda quinzena de agosto. O grande campeão entre as mulheres foi o Brasil, levando o ginásio ao delírio, enquanto a Argentina faturou o troféu entre os homens.
O começo de tudo
O Geraldão foi projetado por Ícaro de Castro Melo, que era esportista de diversas modalidades, entre elas o vôlei. O arquiteto-urbanista chegou a defender o Brasil nas Olimpíadas de Berlim (1936), integrando a equipe de atletismo. Depois, passou a se dedicar à arquitetura, unindo a paixão pelo esporte e pela projeção arquitetônica.

Ícaro também tem, entre outras obras projetadas, o Ginásio Ibirapuera, em São Paulo, e o Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza, fundados em 1952 e 1971, respectivamente. Suas pinceladas também fazem parte da “áurea” do Geraldão, naturalmente.
Já a inauguração do ginásio contou com um jogo de outra modalidade, o futsal (à época, ainda futebol de salão). Um suntuoso evento foi realizado na capital pernambucana e, dentro da quadra, a seleção de Pernambuco venceu o Fluminense na festa, que contou com entradas gratuitas. O resto é, literalmente, história.