Fúria Primitiva funciona como filme de ação inclusivo, mas chega atrasado como blockbuster
Longa dirigido e estrelado por Dev Patel estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira
maio 21, 2024 - 8:48 pm

Fúria Primitiva é escrito, dirigido e estrelado por Dev Patel. Foto: Universal Pictures
Nos últimos anos, o cinema de ação vem procurando se sustentar no ritmo frenético das cenas de tiro, porrada e bomba, sobretudo nas histórias de vingança. A cada novo exemplar, tudo precisa ser mais rápido, mais exagerado e com mais inimigos. Já as tramas vão na direção oposta, seguindo a máxima do ‘quanto mais simples melhor’. As franquias John Wick e O Protetor são os maiores exemplos recentes.
Em entrevista ao site Deadline Hollywood, Dev Patel disse que esse tipo de filme “foi abusado pelo sistema” e que ele queria dar ao gênero “uma alma real, um trauma real, uma dor real”, além de “infundir um pouco de cultura nisso”. Foi com esse objetivo que ele resolveu produzir, roteirizar, dirigir e atuar em Fúria Primitiva (Monkey Man, 2024).

Na história, ambientada em uma cidade fictícia da Índia, acompanhamos o drama de Kid (Dev Patel), um homem amargurado que ganha a vida em lutas clandestinas. Nas brigas, ele interpreta o personagem Monkey Man, inspirado na lenda hindu de Hanuman, um ser místico com cabeça de macaco, associado a virtudes como heroísmo e altruísmo.
A profissão de lutador, porém, não é um plano de carreira. Seu objetivo na vida é se vingar dos poderosos que mataram sua mãe e incendiaram a vila em que vivia quando criança. Para por sua revanche em prática, Kid se infiltra em uma boate comandada pela máfia local. Os alvos principais são o chefe de polícia corrupto Rana (Sikandar Kher) e o líder espiritual picareta Baba Shakti (Makrand Deshpande).
Patel cumpre então sua promessa de preencher um filme de pancadaria com críticas a injustiças sociais, corrupção política, fanatismo religioso e preconceito contra as minorias. Esses elementos contribuem para dar a Fúria Primitiva um ar de novidade em meio a tantas produções ambientadas, quase sempre, nos Estados Unidos.

Mas, ainda que haja boa vontade para exaltar os humilhados, o roteiro falha em aprofundar essas questões. Isso se dá pela pouca construção dispensada aos personagens principais. O próprio Kid tem um vácuo imenso entre o trauma de infância e seu aparecimento adulto como Monkey Man.
Entendemos que ele carrega muita raiva, mas não como lidou com ela durante todo esse tempo, o que deixa um vazio em seu desenvolvimento, principalmente na sua caracterização como “paladino dos excluídos”. Os vilões também decepcionam, retratados como simples caricaturas de gente safada, que se vê em qualquer país de terceiro mundo. Os coadjuvantes idem.
O que não quer dizer que o carisma de Dev Patel, a condição social do herói, a causa, e todo o discurso contra a elite vigarista não nos faça torcer para que ele quebre todo mundo no pau. Sim, queremos sua desforra, queremos vê-lo vencer a banda podre da cidade. Fúria Primitiva funciona assim como um filme de ação inclusivo.
Só que ele também chega atrasado como blockbuster, quando todo mundo já elevou à enésima potência as brigas desenfreadas e tudo parece igual. Mesmo que a direção de Patel seja eficiente na construção das cenas, filmando tudo bem visível e enquadrado, muito pouco do que se vê deixa o espectador com sensação de ineditismo. É um bom conto de vingança, que poderia ter sido mais marcante, no entanto, fica apenas na média.
Nota: ★★★☆☆