Pagode do Didi mantém portas fechadas; entenda a situação do ponto cultural
Entre os esforços para retorno da atividade cultural está um pedido de criação de ‘Zona Cultural’ encaminhado para o gabinete do Recentro
abril 4, 2024 - 2:30 pm

O estabelecimento segue com portas fechadas. Fotos: Reprodução/Instagram
Lugar com forte influência cultural, o Pagode do Didi, localizado na área central do Recife, atravessa mais de quatro décadas em funcionamento. O local é famoso pelas rodas de samba e frequentado pelos amantes do gênero, todas às sextas-feiras. Contudo, na tarde do dia 21 de março, o estabelecimento emitiu um comunicado informando a suspensão das atividades.
Com as portas fechadas, por falta de regularização, o ponto segue desativado. Ao LeiaJá, Ricardo de Souza, administrador do bar, relatou como recebeu a notícia. “Foi feita a interdição até a regularização dos documentos. Eles estão alegando fechamento de rua, dizem que aqui tem palco, mas aqui não tem palco, estão pedindo alvará e [houve] reclamação de vizinhaça, coisa que aqui não tem”, disse.
Ele também revelou uma expectativa de retorno na semana seguinte a notificação judicial, mas a realidade é bem diferente. Cesar Lira, advogado à frente do caso, afirmou que para voltar a funcionar são necessários três documentos.
“São duas regularizações distintas. A Prefeitura havia notificado [no ano passado] para que fosse feito administrativamente e não houve. E aí, é o seguinte, houve essa decisão judicial, suspensão das atividades em razão da falta de regularização tanto da parte do funcionamento do bar como da utilização de solo, que até então não se tinha autorização dos órgãos”, explicou o Cesar. Além dessas autorizações, também foi exigido um alvará do Corpo de Bombeiros, que foi solicitado em 28 de dezembro do ano passado. No entanto, ainda não houve a vistória do lugar.
Os passos a seguir exigem paciência nas etapas. Pelo menos, foi assim que afirmou o advogado. No último dia 27 de março, ele deu entrada na solicitação para uso do solo junto a Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon). Enquanto que a solicitação de funcionamento do estabelecimento foi encaminhada à Prefeitura do Recife. O advogado revelou que, apesar dos esforços, ainda não há previsão de retorno do estabelecimento.
Recentro
A reportagem entrou em contato com o gabinete de Revitalização do Centro da Cidade do Recife (Recentro), que se pronunciou sobre a interdição. Confira a nota na íntegra:
A gestão esclarece que está atenta ao tema e tem trabalhado em conjunto com o estabelecimento para buscar a regularização do Pagode do Didi. A Prefeitura do Recife esclarece que o encerramento das atividades foi fruto de uma decisão da 5ª Vara da Fazenda Pública do Recife, atendendo a um pleito do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e da Procuradoria Geral do Município (PGM). Trata-se de um estabelecimento comercial sem alvarás de localização e funcionamento, situado em Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico/Cultural (ZEPH-SPR), com atividade potencialmente geradora de incômodo à vizinhança (APGI) e com extensa ocupação irregular do logradouro público – palco e mesas. Em que pese terem sido regularmente notificados para o encerramento e adequação das suas atividades em setembro de 2023, os proprietários ignoraram a notificação, não restando ao Município alternativa senão a judicialização da demanda.
Importância do Pagode
Movimentando as noites das sextas-feiras do centro da cidade, desde 1981, o Pagode do Didi é uma atração cultural que atravessa gerações. O movimento foi idealizado por Vlademir de Souza Ferreira, mais conhecido por Didi do Pagode. Desde a sua criação, o lugar é um ímã para sambistas da região e tornou-se o primeiro pagode ao ar livre da cidade.
Para os frequentadores do lugar, a importância está conectado ao fomento promovido no território e retrato da produção cultural recifense. “O Pagode do Didi é realmente um retrato muito forte do que rola aqui com quem faz cultura no Recife. O quanto ele consegue perdurar aquela travessia de ações independente dos formatos que ela já teve”, analisou Vivian Marvel, produtora, professora de dança e frequentadora do local.

Voltando um pouco no tempo, o Pagode foi endereço da Terça Negra, evento criado com o objetivo de promover o encontro de expressões do povo negro. A relação de Didi com a militância do Movimento Negro, rendeu reconhecimento.
Entre elas, o título de destaque da Cultura Negra pela Prefeitura do Recife, recebendo o troféu Terça Negra, em 2009. Além disso, Didi também foi o homenageado do 1° Grande Encontro de Samba Autoral de Pernambuco, e, em 2010, recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Zona Cultural
Há um grande esforço para que o Pagode do Didi retorne às atividades. No entanto, o caminho para a total regulação dos documentos que viabilizam o funcionamento do estabelecimento é burocratica e leva tempo.
Por outro lado, o mandato do vereador Ivan Moraes une forças para propor uma solução que desvincule o bar do evento cultural, e, assim, criar uma Zona Cultural. Ao LeiaJá, o parlamentar explicou a ideia que foi encaminhada para o gabinete do Recentro.
“Compreendendo que o território onde o Didi se localiza, e que tem também outras iniciativas que podem contribuir ou que já contribuem para ocupação econômica e cultural daquele lugar, caberia a Prefeitura criar Zona Cultural, em que possa ser feito algum apoio institucional para aqueles estabelecimentos que tem o Pagode do Didi, o Edifício Douro e o Sebo, que é tudo ali pertinho”, sugeriu.
Na proposta, o vereador pediu a separação do Pagode do Didi e do Bar do Didi. “É entender que o bar é um estabelecimento comercial, que pertence a um indivíduo. Mas o Pagode do Didi é uma atividade que traz a ocupação daquele espaço, traz segurança e renda para um bocado de gente”, enfatizou.
O argumento do parlamentar se sustenta a partir da Lei 19.171, aprovada em 2023. O documento “dispõe sobre a concessão de incentivos fiscais para o desenvolvimento econômico e social do município do Recife”. Ou seja, segundo a Lei há possibilidade de criar uma Zona Cultural que beneficie não apenas o Pagode do Didi, como também os empreendimentos culturais do entorno.