CWUR 2025 e os desafios educacionais de um mundo diverso e globalizado

A lista das melhores universidades do planeta, divulgada recentemente pelo Center for World University Rankings (CWUR) 2025, teve ampla repercussão no Brasil, mas não por um bom motivo: das 53 instituições brasileiras que integram a relação, 46 registraram queda de posição em relação ao ano anterior. Além disso, apenas três instituições privadas do país aparecem […]

CWUR 2025 e os desafios educacionais de um mundo diverso e globalizado

A lista das melhores universidades do planeta, divulgada recentemente pelo Center for World University Rankings (CWUR) 2025, teve ampla repercussão no Brasil, mas não por um bom motivo: das 53 instituições brasileiras que integram a relação, 46 registraram queda de posição em relação ao ano anterior. Além disso, apenas três instituições privadas do país aparecem no levantamento.

Embora o CWUR seja uma referência global em rankings universitários, seus indicadores concentram-se fortemente em aspectos como pesquisa científica, produção acadêmica e reputação internacional. Esses parâmetros, apesar de relevantes, não contemplam a complexidade e a diversidade da educação superior brasileira, especialmente no que diz respeito ao papel desempenhado pelas instituições privadas.

Rankings muito fundamentados em indicadores de pesquisa tendem a desconsiderar o compromisso das instituições com a formação de qualidade e com o desenvolvimento regional e social. Grande parte das instituições privadas brasileiras tem sua atuação voltada para o ensino e a extensão, promovendo impacto direto nas comunidades onde estão inseridas, dimensões que não são refletidas nesses modelos de avaliação.

Esse cenário é justificado por uma questão simples, mas bastante relevante: das 2.580 IES brasileiras, apenas 205 são universidades, sendo 116 públicas e 89 privadas. Do tripé que compõe a educação superior, apenas nessas instituições a pesquisa está entre os principais objetivos. Portanto, apenas elas são alcançadas pelo ranking. Essa ponderação, por si só, já permite uma avaliação um pouco mais positiva dos resultados: 25% das universidades brasileiras estão entre as melhores do mundo, a despeito dos constantes contingenciamentos de recursos para a pesquisa aplicados governo após governo.

Outro ponto importante diz respeito ao critério de empregabilidade adotado pelo CWUR, que leva em conta apenas ex-alunos em cargos de destaque internacional. Além de favorecer instituições com projeção global e forte presença no cenário acadêmico mundial, essa abordagem desconsidera o papel estratégico das universidades que atuam localmente na formação de profissionais essenciais ao funcionamento das suas comunidades.

É importante lembrar que as instituições privadas representam quase 80% das matrículas na educação superior brasileira, mas, historicamente, recebem pouco ou nenhum incentivo público para pesquisa. Mesmo aquelas que desenvolvem atividades científicas enfrentam grandes desafios estruturais e financeiros. Ainda assim, o setor privado tem liderado avanços expressivos na ampliação do acesso, na formação profissional e na promoção da empregabilidade, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento econômico e social do país.

Diante desse cenário, é preciso que as avaliações internacionais sejam repensadas no sentido de serem mais justas, contextualizadas e adaptadas às realidades locais. Com isso, não estou, de modo algum, questionando a excelência de instituições como a Universidade de Harvard, o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) e a Universidade de Stanford, as três primeiras colocadas no levantamento.

Contudo, não tenho dúvida de que, em um país com a diversidade e as desigualdades regionais do Brasil, é fundamental valorizar também o impacto social, a inovação pedagógica, a qualidade do ensino e a inclusão educacional. Inclusive, tenho convicção de que, considerados esses critérios, haveria muitas outras instituições privadas brasileiras entre as 2.000 mais bem posicionadas globalmente.

Ignorar essas dimensões significa perpetuar uma visão limitada e desigual da educação superior, que privilegia instituições com alto investimento em pesquisa em detrimento daquelas que cumprem papel estratégico na formação de milhões de pessoas em todo o mundo. No caso do Brasil, a pluralidade do sistema educacional deve ser reconhecida como um valor em si, e não como um obstáculo a rankings uniformizados.

Nesse sentido, é urgente repensar os critérios utilizados por rankings internacionais como o CWUR, de modo a construir indicadores mais abrangentes, justos e alinhados com os desafios educacionais enfrentados por países em desenvolvimento. Só assim será possível oferecer um retrato mais fiel e equilibrado da contribuição das instituições brasileiras, públicas e privadas, para a construção de um futuro mais justo, inclusivo e sustentável.

Até que isso se concretize, cabe a nós, cidadãos conscientes e educadores comprometidos, continuar promovendo os esclarecimentos necessários à sociedade brasileira. É nosso dever contextualizar os resultados desses rankings, apontando suas limitações, e reafirmar o compromisso com uma educação de qualidade, transformadora e emancipatória. Uma educação que em nada nos diminui diante do restante do mundo.

*Janguiê Diniz – Diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), secretário-executivo do Brasil Educação – Fórum Brasileiro da Educação Particular, fundador e controlador do grupo Ser Educacional, e presidente do Instituto Êxito de Empreendedorismo.