Craque nos gramados e na matemática: a rotina do jogador Zé Lucas na sala de aula
Aluno da rede estadual de Pernambuco, o atleta está no último ano do ensino médio
maio 10, 2025 - 3:21 pm

Zé Lucas atualmente é jogador do Sport e capitão da Seleção Brasileira Sub-17. (Foto: Júlio Gomes/LeiaJá)
Focado, disciplinado, educado, bom em matemática, discreto e solícito são as palavras usadas por professores, equipe gestora e colegas de sala de aula para falar sobre Zé Lucas. Aos 17 anos, o campeão sul-americano pela Seleção Brasileira sub-17 e volante do time profissional do Sport também se destaca fora das quatro linhas. Em meio a rotina de treinos, viagens e jogos, de segunda a sexta-feira, Zé Lucas troca as chuteiras pela mochila, livros e cadernos.
Às 7h da manhã, um micro-ônibus, que sai do Centro de Treinamento (CT) do Sport, no bairro da Guabiraba, para em frente à Escola Estadual Professora Zulmira de Paula Almeida, em Paulista, no Grande Recife. Dele, descem, em fila, atletas das categorias de base e profissional matriculados na instituição, que funciona em tempo regular, acompanhados por uma pedagoga e uma assistente social do clube.
Ao sair do veículo, Zé Lucas distribui “bom dia” e se dirige à sala de aula. O percurso é curto e acompanhando por olhares, mas com certa normalidade de quem já é acostumado a encontrá-lo pelos corredores da escola. É período de jogos importantes no Campeonato Brasileiro Série A, mas também de provas. No “gramado” da escola, ele é José Lucas, aluno do terceiro ano do ensino médio que ocupa uma das cadeiras do “fundão”.
O jogador é aluno da Escola Professora Zulmira de Paula Almeida desde o primeiro ano do ensino médio. A opção de continuar na rede estadual foi da família, como explica a assistente social do Sport, Patrícia Durão.
“Zé estudou a vida toda em escola pública, a não ser um ano em que ele foi bolsista, por ser atleta de futsal. Quando ele veio para campo, ela perdeu a bolsa. Quando houve a chegada dele no time profissional e convocação na Seleção Brasileira Sub-17, a gente procurou a família, falou sobre a situação e o pai dele disse ‘ele vai continuar nessa escola’. A gente escutou bem a família. Mas, aí vem as críticas de que o clube não faz nada, mas tem outras questões. Em um contexto de viagens, jogos e alguns dias de ausências, talvez, a gente não tivesse o mesmo apoio na rede privada. Além disso, Zé não vai ser o primeiro nem o último [jogador] a estudar em uma escola pública que vai ter uma ascensão. No Sport, a gente já teve Joelinton [Newcastle] que estudou no Poeta Manuel Bandeira, que também é um colégio do Estado. Ele concluiu os estudos lá”, frisa.




Driblando as demandas, ajustando a rotina
A Escola Estadual Professora Zulmira de Paula Almeida se tornou uma opção para times pernambucanos por não ofertar aulas em período integral, permitindo a continuidade dos estudos dos atletas e ajustes na rotina, e pela proximidade com os CTs. Todo processo de matrícula e acompanhamento dentro e fora da instituição de ensino, incluindo reuniões e plantões pedagógicos, é realizado pelo clube.
Mesmo com a pouca idade, as responsabilidades de Zé Lucas são muitas. Apesar da rotina corrida, conforme a gestora da escola, Ivaneide Gomes, o atleta apresenta bom desempenho e é “um aluno dedicado”. “Zé Lucas estudante é um aluno bom, participativo, que procura ver o que perdeu por conta das viagens e campeonatos. O Sport manda uma relação dos [alunos] que estão participando [das competições] e fazemos o possível. Ele é um menino que corre atrás”, ressalta.
“Ele nunca foi aluno que precisamos chamar atenção, nem da coordenação, nem dos professores. Ele sempre foi elogiado pelo comportamento desde o início. Sempre teve uma boa relação com os colegas, professores, direção, com tratamento de respeito. Ele acompanha as regras da escola. As cobranças da escola com ele são as mesmas dos outros estudantes. Mas, temos cuidado maior com a segurança dele, porque muita gente sabe que ele estuda aqui”, ressalta.


Com certa timidez, Zé Lucas conta à reportagem como dá conta das atividades escolares, incluindo as avaliações, em meio aos treinos e competições. “É um pouco difícil, mas tento vir o máximo para a escola porque minha vida é muito corrida. Viajo muito, jogo fora, tenho uma rotina de treino, mas tento conciliar bem essa rotina com as coisas da escola”. Durante o período em que jogou pela Seleção Brasileira Sub-17, no início deste ano, o estudante salienta que todas as atividades eram realizadas nos momentos em que “tinha um tempinho”. Todas foram feitas e enviadas à escola.
Com tamanha visibilidade, Zé Lucas passou a ser abordado nos corredores da escola por colegas para fazer fotos e gravar vídeos. “Essas coisas aumentaram um pouquinho [sic] depois que eu fui para a Seleção, mas, quando eles passaram a me ver no dia a dia na escola, foi ficando mais tranquilo. Mas, eu assino camisa, faço foto sempre sem problema”, comenta.
Ao LeiaJá, ele revela que a disciplina que mais gosta é matemática, contudo não tem estima pela química. Nos planos de Zé Lucas, o futebol sempre ocupou o primeiro lugar. Focado em se tornar um atleta ainda melhor, ele também não descarta, futuramente, em ingressar no ensino superior. Embora não seja imediato, o estudante pensa em estudar Educação Física.
Um colega tranquilo e um aluno bom em matemática
O comportamento tranquilo também é observado e apontado por colegas de turma. Nicole Vitória, que estuda na mesma sala que Zé Lucas, destaca que o atleta é “uma pessoa muito tranquila e educada com todo mundo”. “Eu já sabia quem ele era. Então, não foi tão surpresa assim. A gente costuma conversar um pouco e, é claro, que sempre tem alguém pedindo para fazer foto, assinar a farda pelos corredores da escola, mas nada com muita afobação. A gente, de certa forma, já está acostumado com a presença dele”.
Adalberto Dornelas é professor de matemática na Escola Estadual Professora Zulmira de Paula Almeida e, pelo segundo ano consecutivo, acompanha o volante na sala de aula. “Eu sempre percebi que ele tem uma habilidade para aprender os conteúdos relacionados com a disciplina. Enquanto outros alunos estavam tentando entender, ele já resolvia facilmente as questões”, afirma.


“Ele sempre foi muito respeitoso, dedicado, comportado, disciplinado. A ausência por conta das viagens e competições não é um problema só dele, mas de todos os atletas. Mas, eles [atletas] voltam e procuram saber o que perdeu, atualizam as tarefas, os trabalhos, os exercícios. Inclusive, ele”, finaliza Dornelas.
Confira, a seguir, um pouco da rotina de Zé Lucas na sala de aula: