Estudante é aprovada em medicina após 10 tentativas: conheça a jornada de Yasmim

Vencendo todos os obstáculos e não desistindo de seu sonho de criança, a aluna foi aprovada na Universidade Federal de Pernambuco

Estudante é aprovada em medicina após 10 tentativas: conheça a jornada de Yasmim

Yasmim Andrade, estudante de 28 anos, irá cursar medicina na Universidade Federal de Pernambuco. Foto: Victor Lima.

Quanto vale um sonho? Quanto vale o tempo, esforço e dedicação para alcançar seus objetivos? Yasmim Andrade, estudante de 28 anos, afirma que vale muito. Aprovada após dez anos prestando vestibulares, a aluna irá cursar medicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O LeiaJá foi até Yasmim e conheceu sua história de superação e resiliência mais a fundo, buscando entender de onde surgiu o grande desejo de ser médica, e o que a levou insistir nos estudos durante uma década.

Essa jornada começou em 1996, ano em que nasci. Costumo dizer que eu não escolhi a medicina, ela que me escolheu. Desde pequena, minhas brincadeiras eram voltadas ao mundo médico, e para mim, ir para o hospital quando eu ficava doente era como se fosse ir para uma espécie de Disney. Sempre foi algo muito genuíno em mim, desde pequena. Era como se eu já tivesse nascido com esse anseio”, relata a estudante.

Quando criança, Yasmim, que é natural de Recife, conta que precisou se mudar para o interior do estado de Pernambuco devido ao trabalho de seu pai, e acabou concluindo lá a sua formação no ensino fundamental e médio. A aluna relata que conseguir terminar a escola não foi fácil, pois sentia muita dificuldade de aprendizagem, mas até então não sabia identificar o que era.

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Os obstáculos da jornada

No segundo ano do ensino médio, Yasmim passaria por uma perda que quase a fez desistir de sua vocação: a morte de seu avô paterno, que a faria perder a vontade de ser médica.

“Mais ou menos do segundo para o terceiro ano do ensino médio, eu perco o meu avô por parte de pai de forma trágica, em um incêndio. Ali, eu tinha perdido a figura que era tudo para mim, e eu não pude ir no enterro dele, que foi de caixão fechado. Eu acabei pegando uma fobia por pessoas mortas, e por um momento, o sonho de ser médica foi abafado devido a tudo isso. Eu precisava cuidar desse trauma”, relembra, emocionada.

Aos 18 anos, Yasmim conta que retornou a Recife com foco em estudar para o vestibular, almejando ser aprovada em outro curso. Ao chegar na cidade, a vestibulanda recebeu a notícia da morte de sua avó paterna, e mudou sua percepção sobre a medicina, fazendo reacender o sonho que havia adormecido.

“Eu tive que me despedir também de uma das pessoas mais importantes, e aí é quando eu recupero esse anseio de continuar lutando pelo meu sonho de ser médica e honrar tudo o que eu tinha prometido a ela em vida. E assim eu começo a minha jornada de cursinho”.

O cursinho e os professores

Após retornar para a capital pernambucana e começar a estudar focada nos vestibulares, Yasmim relata que, contando com a ajuda de seu tio e sua família, deu entrada no curso preparatório do professor Darlan Moutinho.

Yasmim com seus professores Anahy Zamblano e Darlan Moutinho. Foto: Victor Lima.

“Depois do quarto ou quinto ano tentando [a aprovação em medicina], e já tendo quadros de depressão e ansiedade pesados, eu descubro que tenho TDAH, o que justifica tudo o que passei de dificuldade de aprendizado na infância. Corri atrás de medicamentos e tratamento para tentar fazer estabilizar o meu quadro, mas ainda permaneci com muita dificuldade em aprender. No meio de tudo isso, eu já estava com Darlan há quatro anos. De dez anos de cursinho, eu estudei nove com Darlan, e sempre digo: foi fundamental para o meu crescimento. Mesmo sem saber que tinha TDAH, eu aprendi a matemática de forma muito clara e muito fácil. O método de ensino dele foi fundamental”, diz.

Nos anos em que estudou no curso do professor Darlan, Yasmim desenvolveu com seus docentes uma relação que ultrapassou o laço professor e aluno. A estudante passou a ter seus mentores como grandes amigos, e até mesmo família, encarando o cursinho como uma segunda casa.

“Ela é como uma filha para mim[…]Yasmim chegou pra mim em uma situação, já no nono ano de curso, dizendo: ‘Darlan, eu bati na trave de novo’. E eu perguntei pra ela, com o coração apertado: ‘e aí, vai desistir?’. E ela me disse ‘não seria justo comigo'”, contou o professor Darlan Moutinho.

Anahy Zamblano, professora de redação e linguagens do preparatório, foi uma das pessoas a quem Yasmim se apoiou nos momentos difíceis e conseguiu ajuda para se reerguer e seguir em frente na sua caminhada para a aprovação.

“O trabalho com Yasmim sempre foi muito personalizado, e é a forma que eu encaro de como se ensinar a escrever. Ela era sempre muito receptiva e não tinha medo de ser corrigida. Ela sempre se buscava cada vez mais, e eu acho que foi isso o ápice também da forma da gente se conectar muito. Uma vez ela disse pra mim: ‘ah, mas eu não quero fazer redação’. Eu parei, olhei para ela, e disse assim: ‘Yasmim, quem faz o que quer, é criança. Você precisa fazer o que é necessário para alcançar os seus objetivos'”, contou a linguista.

Yasmim, que disse ser muito grata pelas duas importantes figuras de ensino, afirma que Darlan e Anahy foram o alicerce em que ela se apoiou no caminho até a aprovação.

“Há dois anos, Anahy começou a ser minha professora de redação e linguagens, e aí eu pude crescer exponencialmente, alcançando notas no Enem que nunca pensei que alcançaria, como os 960. Os dois [Darlan e Anahy] foram um alicerce para o meu crescimento”, comenta Yasmim.

Acreditar e incentivar fazem a diferença

Após não conseguir a aprovação pela nona vez consecutiva, Yasmim conta que sua família estava passando por uma situação financeira muito difícil, e não haveria mais condições de arcar com os custos dos estudos. A estudante relembra quando relatou sua situação ao professor, que ao ouvir tudo, a ofereceu uma bolsa de estudos integral durante um ano. E exatamente um ano depois, na sua décima tentativa, Yasmim recebe a notícia da aprovação. “Meu pai e minha família não poderiam mais custear os meus estudos devido a questões pessoais, e no final de 2023 eu não havia feito uma boa prova. E foi onde entrou Darlan. Ele chegou, disse a mim que eu não me preocupasse, ele me daria uma bolsa 100%”, conta a aluna.

“Não é uma prova que vai avaliar quem você é. Você pode fazer tudo certo, e de repente, não dá certo. O propósito existe, e é isso que fez Yasmim não desistir. Ela é uma pessoa que tá ali, que você vê o esforço, que você vê a disciplina, que o mundo pode estar acabando, mais ela tá ali, ela é resiliente, ela acredita. Ela se preocupa mais com o outro do que com ela mesma. De uma forma ou de outra, eu garanto que tive mais a aprender com ela, do que ela comigo”, complementa Darlan.

A rede de apoio familiar

Sandra dos Santos, mãe de Yasmim, relatou à reportagem que entendeu, ao longo dos anos acompanhando a filha, o quanto uma rede de apoio familiar tem o poder de fazer a diferença na vida do estudante. “Tinham dias difíceis que a gente sofria junto, e também dias bons, que a gente se alegrava junto. A cada vez que a gente como família fortalecia ela, ela, com sua garra, nos fortalecia”, conta a mãe, orgulhosa.

Yasmim comemorando a aprovação com sua mãe, irmão e avó. Foto: Victor Lima.

“Receber não durante dez anos não é fácil”, desabafa Yasmim. A aluna contou à reportagem que sem o apoio de sua família, não conseguiria chegar onde chegou. “Eu chegava no cursinho às 8h e ia para casa às 23h. Foi muito choro, foi muita noite mal dormida, eu adoecia bastante com o emocional abalado. E eles não me abandonaram, eles seguraram a minha mão. Talvez se a Yasmim de dez anos atrás não tivesse o apoio que ela tem da família e dos professores, não estivesse hoje aqui, dizendo que passou em uma federal”.

“Esse apoio familiar foi não somente um mérito nosso, mas também dela, mesmo sem ela saber. A gente apoiava, acreditava no sonho, como família fazíamos o que podíamos por ela, mas também, ao mesmo tempo, à medida em que ela mostrava sua garra, aprendíamos. E íamos nos fortalecendo automaticamente, sempre de mãos dadas. Ela tem me ensinado que a gente não deve desistir dos nossos sonhos”, finaliza Sandra.

Um final feliz e um começo de muitas expectativas

Foto: Victor Lima.

Com presença da mãe, irmão, avó e seus queridos professores, Yasmim pôde comemorar a tão sonhada conquista numa tarde recheada de lágrimas de alegria, abraços e sorrisos. Esperançosa, ela afirma que não vê a hora de começar o curso, e finalmente exercer a profissão que desejou desde criança.

“Eu espero que eu consiga manter o brilho no olho que aquela menina de seis anos tinha. Eu quero tá perto do outro e saber exatamente aonde dói, e como eu posso diminuir essa dor dele”, concluiu a futura médica.

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