Quadrilhas Juninas reúnem tradição e oportunidades de trabalho
Para os grupo, os preparativos começam antes do São João
junho 15, 2024 - 7:44 am

Componente da quadrilha Junina Tradição fazendo os últimos ajustes no figurino. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Para quem vive o São João, os preparativos para a festa começam muito antes da chegada do mês de junho. A celebração, além do cunho religioso, carrega tradições culturais, assim como é uma época de oportunidades de trabalho.
Há dez anos, Caio Barbosa começou a trabalhar como maquiador. A oportunidade veio durante o período junino, em que ele realizou trabalhos para quadrilhas juninas. “Foi na quadrilha junina que tive oportunidade de aflorar algo que eu nem sabia que podia fazer. Tive oportunidade de assinar algumas estéticas, mesmo sem ter nenhuma técnica na época, e mesmo assim, fazia, errava e, hoje, sou o que sou por causa dessas oportunidades”.
Além de maquiador, Caio também faz adereços e figurinos para grupos juninos. Em média, ele trabalha com quatro instituições em Pernambuco, além de realizar trabalhos em outros estados. “São essas pessoas que me procuram por gostarem do meu trabalho. Em média, cobro R$150 a R$200, isso vai depender muito do que o cliente deseja”, disse ao LeiaJá.
À reportagem, o maquiador e artesão conta que, com a proximidade do São João, o ritmo de trabalho aumenta, assim como os ganhos. “Eu já cheguei a trabalhar 10 horas em um dia sem parar, mas varia de dias e de quantidade de pessoas que eu pego naquele determinado momento (…) com toda certeza esse período junino, seja ensaios ou já em concursos, é onde a remuneração é bem maior. Nessa época, ganho entre R$ 4 mil a R$ 5 mil”.

Além da arena
No Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, a Junina Tradição se prepara para uma sequência de competições e apresentações. Com 20 anos de existência e muitas premiações a nível regional e nacional, a quadrilha junina possui uma organização e logística que, muitas vezes, passa despercebida para o público.
Em entrevista ao LeiaJá, o diretor de marketing da Junina Tradição, Elon Sant’ana, explica que o grupo possui 20 diretores e, em 2024, tem mais de 100 pessoas dançando. Todo trabalho realizado é de forma voluntária. Contudo, há a contratação de artesões e costureiras, o que gera gastos à quadrilha.

De acordo com Elon, os gastos da Junina Tradição neste ano são de aproximadamente R$ 280 mil. Questionado sobre como o grupo costuma se manter e arcar com os gastos, o diretor ressalta que durante os meses que antecedem o São João, eles costumam realizar eventos, bingos e apresentações.
“Existem vários caminhos [para se manter]. A gente trabalha com eventos, temos uma grande festa para o lançamento do tema, que todo mundo quer saber, assim todo o lucro é revertido para o espetáculo. Além disso, existe uma mensalidade que os componentes pagam para os figurinos. Esse valor, a gente divide de acordo com o recurso de cada um. Somos uma quadrilha filiada a Faquajupe [Federação das Quadrilhas Juninas e Simulares do Estado de Pernambuco] e Liquajur [Liga Independente de Quadrilhas Juninas do Recife], que são duas entidades que cuidam das quadrilhas juninas. Então, a gente recebe subsídio da prefeitura [do Recife], conseguimos apresentações e recebemos por isso”, explica Elon.

Os desafios para manter uma quadrilha junina, segundo Elon, são muitos. “Botar (sic) quadrilha na rua é difícil. Porque a gente não quer se apresentar sem um propósito. Para se manter, a gente para e reflete os nossos erros, para que não se repitam. A gente para tudo para se dedicar à quadrilha. Nem sempre o que conseguimos arrecadar dá para pagar todos os gasto, mas, a gente se organiza. Somos uma instituição com CNPJ, temos 20 diretorias. Temos tudo, como uma empresa”.
Linhas de afeto
Aos 77 anos, Adeilda de Sousa Coutinho é uma das responsáveis por costurar parte dos figurinos usados pela Junina Tradição. Na casa de Dona Tetei, como é conhecida no Morro da Conceição, um dos cômodos se transforma em ateliê. Armações de saias, fitas decorativas e demais adereços tomam boa parte do espaço.

Todo trabalho de Adeilda é remunerado. Além dela, outras costureiras são contratadas para dar conta da demanda. “Sempre gostei de quadrilha, de São João. Então, eu comecei a acompanhar e, como eu já costurava, passei a fazer as roupas”. Ao LeiaJá, ela conta que os trabalhos começaram em abril. Neste ano, Dona Tetei está encarregada de confeccionar 13 roupas. “As peças são bem detalhistas, bem trabalhadas. Consigo armar quatro roupas por dia”, ressalta.

