Universo geek é fonte de empreendedorismo e formação de carreira
O dia do Orgulho Nerd é comemorado desde 25 de maio de 1977, com uma diversidade cultural que ultrapassam barreiras
maio 25, 2024 - 8:00 am

Foto: Ellen Tavares/LeiaJá
“Nerd” e “Geek” são termos que caracterizam pessoas que se interessam por produções da cultura pop, como filmes e séries de super-heróis, produtos tecnológicos, jogos de cartas, entre outros. Comemorado neste sábado (25), o dia do “Orgulho Nerd” ou o “Dia da Toalha”, é uma celebração a esse universo fantástico. Transpassando apenas o consumo de conteúdo nerd, a paixão pelo universo geek pode se tornar uma fonte de renda, carreira e até mesmo empreendedorismo.

Transformar hobby em fonte de renda
Segundo o levantamento do Trading Card Game (TCG) Market [2023-2030], o mercado mundial de TCGs deve se expandir à taxa de crescimento anual composto (CAGR) de 7,69% durante o período previsto pela pesquisa.
Nessa visão de mercado, nasce os empreendimentos que acoplam o Universo Geek, como lojas de card games e geeks. Depois de aproximadamente três anos sem ter uma loja de jogos de cartas em Recife, Carlos Mendes, de 38 anos, um admirador de jogos TGCs, reabriu o negócio na capital pernambucana, a loja Caverna do Dragão, juntamente com seu sócio. Carlos relata que o empreendimento ressurgiu não só com o objetivo de ganhar dinheiro, mas também de proporcionar um pouco de diversão e lazer para as pessoas que gostam de card game.

“O nosso público é muito mais de adolescente para adulto. Recebemos mais crianças no Pokémon, que no caso é nos dias de sábado e às vezes no domingo. Quando abrimos a loja, tínhamos os três principais cards games: ‘Pokémon’, ‘Magic: The Gathering’ e ‘Yu-Gi-Oh’. O Yu-Gi-Oh com o passar do tempo, foi desaquecendo na loja, precisando investir em outras janelas de empreendimento. Atualmente, o card game chefe é o ‘Magic: The Gathering’, o que movimenta a nossa loja de segunda-feira a sexta-feira, e aos domingos em eventos especiais. Para cada torneio, recebemos o valor das inscrições, sendo R$ 30 para Pokémon Challenge, para eventos Cup a taxa varia de R$ 40 a R$ 50. E para o Magic R$ 25 o regular, e R$ 100 o classificatório para os regionais”, diz Mendes.
‘Pokémon evoluído’: Juiz de Pokémon é uma evolução dentro do mundo geek

“Desenvolvemos um amor pelos jogos”, diz Ruan Galvão, de 31 anos, analista de sistemas e atualmente juiz de Pokémon, função que atua há 4 anos. Para exercer esse papel, segundo Ruan, é essencial praticar a observação de erros e falhas nos jogos, como a organização e preparação antes das partidas, em especial a de Pokémon, a qual é atuante.
“Ser juiz de Pokémon é um trabalho voluntário. Começamos como jogadores e quando a comunidade está no começo, é perceptível a necessidade de ter alguém pra organizar e garantir que os jogadores cumpram os core values da play Pokémon, que são: integridade, honestidade, responsabilidade e profissionalismo. Quando isso é feito, a maior recompensa para um juiz de Pokémon, é ver o crescimento da comunidade, o sorriso e a alegria da galera, o compartilhamento de histórias e as amizades que fazemos”, relata Ruan.
Para ser um juiz de Pokémon , primeiro precisa ter um entendimento do jogo. O segundo passo é a realização de uma prova na Play!Pokémon, que possui três níveis:
NÍVEL 1 – Juiz Básico
O jogador deve ter familiaridade com o Programa Play!Pokémon e compromisso de aderir aos Valores Fundamentais do Professor. Os aspirantes a professores devem realizar um exame direto de múltipla escolha que aborda uma variedade de tópicos, como procedimentos de torneios e regras de jogos.
NÍVEL 2 – Stage 1
Para se qualificar, devem participar de, pelo menos, seis eventos por ano em uma função apropriada para certificação. Os professores básicos podem se inscrever para chegar ao Estágio 1 após nove meses no programa. O exame do Estágio 1 compreende o elemento familiar de múltipla escolha, mas com alguns tópicos mais avançados incluídos. Além disso, os candidatos do Estágio 1 devem fazer uma reflexão por escrito de seu tempo dentro do programa até o momento.
NÍVEL 3 – Stage 2
Para se qualificar, devem participar de, pelo menos, oito eventos em locais aprovados por ano, quatro dos quais devem ser Premier Events, em uma função apropriada para certificação. Os candidatos devem ser fluentes em inglês.
“O cenário de Pokémon TCG segue crescendo no estado. Atualmente, no Recife, temos quatro juízes atuantes, além de ligas ativas espalhadas por cidades como Caruaru, Petrolina e Serra Talhada”, explica Ruan. Ainda segundo o profissional, Caruaru tem dois juízes ativos e Petrolina tem quatro, sendo dois Stage 1.

Jogos imersivos: o mundo geek recebe de crianças a adultos
De acordo com a pesquisa realizada pela consultoria especializada Newzoo (2021), cerca de 72 mil entrevistados revelam que a Geração Z e as gerações mais jovens estão cada vez mais envolvidas com os aspectos sociais e comunitários dos jogos, mas a cultura nerd não só se limita a essas gerações.
“Eu sou fã desde criança da franquia Pokémon”, conta o jogador, Sérgio Silva, de 36 anos, funcionário público, e apaixonado pelos jogos TCGs há 15 anos.
“Os jogos de card game, como o Pokémon, estimula as crianças a lerem”, diz Galvão, justificando o contingente das taxas de analfabetismo, que comparado ao Censo 2010 caiu de 9,6% para 7,9%. De acordo com o “Censo Demográfico 2022: Alfabetização: Resultados do universo”, divulgado pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE), a taxa de alfabetização foi 93,0% em 2022 e a taxa de analfabetismo foi 7,0% deste contingente populacional.
“Como juiz e jogador de Pokémon, não julgo os cards games como ‘jogo de criança’. A temática do Pokémon é muito boa para os pequenos, ajuda a criança somar, subtrair, multiplicar, dividir. Além disso, o incentivo à leitura vem das disposições das cartas, pois existem textos de efeitos, textos para o ataque, fazendo com que as crianças tenham o entendimento das cartas e leiam para saber quais jogadas devem realizar”, explica Ruan. “Já para os adultos, incentiva a interação social porque uma vez que estamos num século em que a comunicação só se dá por Whatsapp, pela internet, por Webcam, e ter um jogo que promova o encontro com os amigos, o bate-papo entre as pessoas, o ‘olho no olho’, é algo que agrega muito”, completa.
Mercado geek: crescimento dos jogos digitais como carreira
O Brasil é o maior mercado do setor na América Latina, com 88,4 milhões de jogadores, gerando mais de US$ 1 bilhão em 2021. A tendência, segundo os dados da Yandex Games, é de seguir crescendo para mais de 116 milhões de pessoas até 2026.
Os jogos digitais no Brasil em si não geram renda diretamente, mas streaming, premiações em campeonatos – alguns destes ultrapassam R$ 50 mil -, parcerias com lojas e presença em eventos, podem virar uma boa fonte de renda com ganhos até em dólares. Por exemplo, em um evento internacional de Pokémon GO, de uma competição de dois dias, o campeão pode ganhar de 5 à 15 mil dólares, de acordo com a categoria e idade.
É nessas estimativas que o card game Pokémon, popularmente conhecido em cartas, ganha força em sua versão tecnológica, o chamado Pokémon GO. Dentro dos dados apresentados, o organizador de eventos, como SuperCon e PowerCon, jogos como Pokémon GO, TGC e VGC, Rogério Juan, conhecido como Omeletedetogepi surge no mercado dos jogos digitais em Recife.

O organizador de eventos este ano, representou os Cosplayers e Gamers numa menção honrosa recebida pela Câmara Municipal do Recife.
Rogério está atuante no mercado há cinco anos, mas oficializado na categoria de Pokémon GO há pouco mais de dois. “É um misto de dever comprido, com felicidade, com olhar da turma feliz, como nossa paixão geek nos une deixando de lado as diferenças”, diz Omeletedetogepi sobre a sua carreira no mercado geek.
“Como organizador de eventos, o retorno financeiro é proveniente da variância dos produtos, que são facilmente vendidos, ou os valores em dinheiro, a depender dos jogos, quanto mais hypados, maior as chances de ganhar valores maiores, pois é o que mais atraem os os patrocinadores”, relata Rogério.
“Apesar de sofrer certo preconceito e não devido valor reconhecido, o mercado geek movimenta milhões por ano em produtos (figures, roupas, jogos, etc) e geram milhares de empregos diretos e indiretos. Imagine um evento com duas ou três mil pessoas, entre público e staffs, quando se consome de alimentação, artigos geeks, transporte e hospedagem. Em um evento assim, até a “Tia” ou “Tio” que ficam na porta vendendo lanche ganham um valor bom com o seus empreendimentos”, completa.

Além de organizar grandes eventos na capital pernambucana, Omeletedetogepi impactou e contribuiu para o desenvolvimento da cultura nerd em Pernambuco, trazendo premiações para o estado. Em 2023, o último campeonato da franquia Pokémon GO organizado no Nordeste ocorreu em Natal, estado do Rio Grande do Norte, que entre os 20 classificados, três recifenses ficaram entre os 20 melhores.
“A sensação de estar no que foi o último regional do Nordeste foi incrível, foi espetacular! Eu diria que foi um grande orgulho, aliás, porque foi um regional grande, uma região que não faz tanto sucesso, onde eu consegui reunir muitos amigos meus, porque a maior parte dos meus colegas de Pokémon GO são todos da região Nordeste, já que nós tínhamos o Campeonato Nordestão na época da pandemia. E estar lá com esses meus amigos, partilhar os momentos, partilhar as felicidades, as derrotas, as vitórias, foi fenomenal” relata Leonardo Costa.
O Universo Geek e a Arte dos Cosplays
O cosplay é uma forma de se expressar onde pessoas se fantasiam, podendo ser de um personagem de filme, série, animes, história em quadrinho ou qualquer personagem do meio ou mídia. A origem dessa expressão artística surge nos Estados Unidos, em 1939, durante o World Science Fiction Convection (Worldcon) que Myrtle Rebecca Nolan, popularmente conhecida como Morojo, realizou o primeiro cosplay que se tem registro no mundo, tornando a produção dos figurinos mais comum.
Morojo produzia suas próprias peças, tornando-se um espelho para a prática hoje em dia. Os figurinos vestem de crianças a jovens, sem seleção de idade, e no Brasil, são popularmente apresentados em grandes eventos de cosplayers, como Comic Con Experience (CCXP), que possui pontos de encontros em São Paulo, e Recife, em Pernambuco.
Grande parte desses eventos recebem pessoas do público geek e adolescentes, se tornando palco para mostrar suas fantasias e paixões por esse universo e expressão artística.
A arte dos cosplays além de ser uma expressão artística e cultural, pode ser fonte de empreendimento para além da paixão de montar cosplayers. Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2023, o Brasil tem a marca de 8ª maior Taxa de “Empreendedores Estabelecidos”, aumentado de 10,4% para 11,9%.
É nesse crescimento, que a jovem empreendedora, Israele Melo, de 23 anos, natural de Caruaru, no agreste pernambucano, confecciona cosplays. E é desse trabalho de forma autônoma que ela está no mundo geek há dois anos, com produção artística há seis meses.

“Desde a infância sempre amei arte, moda, costura, vestuário e personagens, seus figurinos e performance, algo que ficou guardado no íntimo até entender e conhecer melhor a área artística e me apaixonar. Por ser autodidata, os conhecimentos e estudos aplicados me fizeram desenvolver como artista e artesã, e me encontrando como pessoa e profissional, sempre procurando aprender, inovar e compartilhar”, conta Israele.








“Como confeccionista de cosplays, trago comigo serviços em wigmaker, para estilização, corte e modelagem de perucas para personagem, e para confecção de armas, acessórios pequenos ou grandes se adere a categoria de propmaker e cosmaker na modelagem e costura dos figurinos e cosplay, entra também a costura criativa e personalizada, onde por meio da divulgação atrai um público que também aprecia essa exclusividade e atendimento, no geral o ganho são por peças e confecções. Após divulgação de trabalhos e abertura de agenda, são feitos orçamento para cada mês ou data prolongada para determinado evento ou data em especial. Nisso, eu estabeleço uma porcentagem em gastos para início das confecções até entrega, fora os produtos que já estão disponíveis a pronta entrega no ateliê”, finaliza.