Saiba como usar Funk Generation, álbum de Anitta, na redação do Enem
Professor Felipe Rodrigues mostra como produzir um repertório criativo utilizando músicas de Anitta
maio 20, 2024 - 12:19 pm

Foto: Divulgação
Na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o estudante deve criar um texto dissertativo-argumentativo em 30 linhas. É nesse momento crucial que muitos candidatos procuram uma forma de destacar a produção textual e conseguir uma boa nota final.
Para correção da redação, são usadas cinco principais competências que, juntas, podem chegar até 1000 pontos. Saiba quais são as cinco competências, explicadas pelo próprio Ministério da Educação (MEC):
Competência 1 – Domínio da escrita formal da língua portuguesa
Nela, é avaliado se a redação do participante está adequada às regras de ortografia, como acentuação, ortografia, uso de hífen, emprego de letras maiúsculas e minúsculas e separação silábica. Ainda são analisadas a regência verbal e nominal, concordância verbal e nominal, pontuação, paralelismo, emprego de pronomes e crase.
Competência 2 – Compreender o tema e não fugir do que é proposto
Avalia as habilidades integradas de leitura e de escrita do candidato. O tema constitui o núcleo das ideias sobre as quais a redação deve ser organizada e é caracterizado por ser uma delimitação de um assunto mais abrangente.
Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
O candidato precisa elaborar um texto que apresente, claramente, uma ideia a ser defendida e os argumentos que justifiquem a posição assumida em relação à temática da proposta da redação. Trata da coerência e da plausibilidade entre as ideias apresentadas no texto, o que é garantido pelo planejamento prévio à escrita, ou seja, pela elaboração de um projeto de texto.
Competência 4 – Conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação
São avaliados itens relacionados à estruturação lógica e formal entre as partes da redação. A organização textual exige que as frases e os parágrafos estabeleçam entre si uma relação que garanta uma sequência coerente do texto e a interdependência entre as ideias.
Preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais são responsáveis pela coesão do texto porque estabelecem uma inter-relação entre orações, frases e parágrafos. Cada parágrafo será composto por um ou mais períodos também articulados. Cada ideia nova precisa estabelecer relação com as anteriores.
Competência 5 – Respeito aos direitos humanos
Nessa competência, o candidato deve apresentar uma proposta de intervenção para o problema abordado que respeite os direitos humanos. Propor uma intervenção para o problema apresentado pelo tema significa sugerir uma iniciativa que busque, mesmo que minimamente, enfrentá-lo. A elaboração de uma proposta de intervenção na prova de redação do Enem representa uma ocasião para que o candidato demonstre o preparo para o exercício da cidadania, para atuar na realidade em consonância com os direitos humanos.
Entre eles, a competência 2 destaca o entendimento do tema e como utilizá-lo bem no texto. É aí que entra o repertório sociocultural do estudante. Para entregar uma redação bem elaborada, completa e diferenciada, o repertório pode desempenhar um bom papel. Pensando nisso, o LeiaJá conversou com o professor de redação para o Enem, Felipe Rodrigues, sobre como inovar no seu repertório.
Seguindo os últimos lançamentos do mundo da música, a cantora Anitta divulgou, no dia 26 de abril, o seu novo álbum “Funk Generation“. O docente separou algumas músicas e significados que podem ser levantados no texto a partir das canções da artista.
Para ele, o disco vai além da música e aborda assuntos bem pontuais e necessários. Funk Generation conta com a valorização do funk, assuntos sociais e recados que muitas vezes estão na entrelinhas mas não são discutidos.
1. Funk Rave
Uma das principais músicas do álbum, o professor defende que “Funk Rave” traz a figura do empoderamento feminino, de uma mulher que tem autonomia do seu corpo e das suas decisões. É uma fuga da questão patriarcal que existe frente à figura feminina.
“Claro que a música vai falar também de libertações, questões também eróticas, podemos assim pontuar. Mas esse é um recorte bem interessante que podemos levantar dentro, por exemplo, das temáticas com o mercado de trabalho, funções de poder neste mercado, mulher tendo vez e voz dentro dessa relação de poder”, explica Rodrigues.
2. “Love In Common”
Um dos singles produzidos em inglês por Anitta, “Love In Common” aborda as novas relações amorosas e as relações fluidas que surgem, com o mesmo pensamento de “não se apegar”. É uma fluidez que Felipe Rodrigues entende ser um reflexo da sociedade contemporânea, que traz “valores difusos ao que eram postulados a uma geração anterior”.
“A gente pode falar da questão literalmente da relação entre as pessoas e tem um filósofo que pontua muito bem sobre isso que é Zygmunt Bauman quando ele escreve “Amor líquido”, que vai falar sobre essa fluidez nas relações sociais, advinda principalmente dessa era da internet”, aponta.
3. Aceita
“Aceita” é uma música que possui dois pontos: a intolerância religiosa, que é mostrada no clipe, e a figura feminina em posição de poder, escrita na letra da música. Quando a figura feminina está em uma posição de poder, é sempre discutido a capacidade dela e se ela merecia aquele espaço.
“É uma espécie de prova, de capacidade de dizer ‘ah, ela teve a produtividade’, é uma questão exclusivista de uma pessoa, não de todos. É uma ideia de incapacidade de gênero pelo contexto social”, explica o professor.
O clipe de “Aceita” também trabalha com o olhar da religião de matriz africana, iorubá. O vídeo critica a intolerância religiosa e promove a religiosidade dessa matriz.
“São vários elementos ao mesmo tempo, tanto no vídeo, que não está dentro da música, tanto na música que está dentro do vídeo. São elementos que podem ser trazidos dentro do debate, esse preconceito religioso dentro do vídeo e esse preconceito de gênero dentro da música”, conta Felipe.
4. Cria de Favela
Assim como outros trabalhos da cantora, “Cria de Favela” mostra a multipluralidade brasileira, com o ritmo do funk que está dentro da construção cultural do Brasil. O single também mostra as multiplicidades da própria cultura do funk, que alcança diversos lugares do país, como em Pernambuco que conta com a variação do brega funk, por exemplo.
“Mas esse funk carioca vai ser enaltecido junto a realidade social a qual está inserido, a questão das comunidades, essa realidade de favela, ela vai ser bem pontuada nas entrelinhas. A mesma favela que Aluísio de Azevedo vai nos trazer em ‘O Cortiço’ e que, até então, é uma forma de resistência do Rio de Janeiro que é tão lotado de favelas. Com complexos que tem elementos que constituem, como por exemplo, a musicalidade, a variação linguística, os estilos, a moda. A favela realmente tem seus crias e esses crias são a representação de um povo que é excluído. Então esse debate de exclusão social, esse debate de estigmas, esse debate também é trazido à ‘Cria de Favela’”, finaliza o docente.