Moda penitenciária: Mulher cria loja de roupas para visita na cadeia

Empreendimento oferece looks que encaixam nos requisitos para visitas na cadeia e no CDP

Moda penitenciária: Mulher cria loja de roupas para visita na cadeia

A loja física fica no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Foto: Cortesia

Na área de empreendedorismo é difícil se destacar em meio a tanta concorrência. É preciso ser criativo e ter um diferencial para atrair os clientes e conseguir alavancar sua marca. Unindo inovação e demanda, a loja Bazar da Bez aparece no mercado de moda mas com um estilo bem específico: a moda penitenciária.

Essa é a loja encabeçada por Camilla Bezerra, de 32 anos, de São Paulo. Camilla vem de uma família de comerciantes e vive do comércio desde que nasceu, com ensino médio incompleto, trabalha desde os 16 anos como ajudante de camelô no centro da cidade. Ainda jovem, chegou a fabricar biquínis para vender na feira da madrugada em carrinhos de mercado, já vendeu e foi modelo de lojas variadas, com diferentes funções.

Foi desse crescimento que o Bazar da Bez, mesmo que lentamente, foi tomando forma. A loja física fica no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.. A empresária explica que não teve a ideia pronta de início, mas ela foi acontecendo aos poucos, quando seu marido foi preso em agosto de 2022. Durante suas visitas ao seu marido na prisão, ela começou a vender sob encomenda para outras pessoas que também estavam esperando para visitar seus conhecidos.

“Iniciei sem nenhum investimento, oferecendo sob encomenda para as visitantes da mesma unidade em que eu visitava meu marido. Foram gostando da qualidade das peças, do meu atendimento e embalagem, e em pouco tempo eu já era bastante conhecida na fila”, relembra a jovem.

Isso porque para realizar visitas na prisão ou no Centro de Detenção Provisória (CDP) é necessário utilizar um tipo específico de roupa, determinado para todos. Aqueles que possuem entes ou conhecidos presos, precisam seguir este requerimento ao caminhar para visita. Por isso, uma loja de moda focada apenas nestes estilos, traz um público específico que tinha que caçar por estas vestimentas em lojas gerais. 

“Por vir de uma família de empreendedores, que sempre viram uma boa oportunidade pra mim no negócio e sempre me apoiaram muito. Os meus familiares e minhas primeiras clientes (também). A dificuldade maior foi eu estar sozinha com a nossa bebê que, na época, tinha menos de um ano”, relata a paulista.

O nome ‘Bazar da Bez’ já existia nas redes sociais há um tempo, como algo improvisado em que Bezerra vendia desapego de roupas e alguns itens novos de lojas atacadistas em que ela trabalhava. Depois de um tempo, entre outubro e novembro de 2022, ela começou a utilizar o mesmo perfil para divulgar as roupas do presídio e o nome acabou ficando. Foi o início do ‘Bazar da Bez: Moda Padrão Penitenciária’.

“Comecei a ficar empolgada com o aumento nas vendas e resolvi começar a montar os ‘kits’, pois na época comecei a acompanhar as meninas que criavam conteúdo estilo ‘arrume-se comigo’ versão presídio e achei que chamaria atenção algo pensado para esse momento. Passei a divulgar nas redes sociais e acabou viralizando!”, conta Camilla.

Os ‘kits’ são o carro-chefe da loja. Composta por uma camiseta e legging 100% lisas, de diferentes cores, apenas as permitidas nas maiorias das penitenciárias. Eles vão de R$ 65,00 a R$ 165,00 com diferentes tipos de modelo, tecido e estilos. Os kits básicos possuem mais demanda por serem aceitos em diversos presídios, pois algumas unidades variam nas restrições de vestimenta.

O Bazar pode parecer diferente para algumas pessoas, mas a empresária explica que não é um comércio pioneiro, a sua abordagem sim. A roupa padrão penitenciária já existia antes, mas Bezerra apostou no marketing das redes sociais que explodiu o seu acesso ao público de diferentes partes do Brasil, esse é seu maior diferencial.

“Esse nicho de comércio que é roupas padrão do presídio sempre existiu, mas era mais discreto, físico nas portas de presídios e com baixa visibilidade na internet. Eu quis fazer um trabalho diferente, mais caprichado e puxando para proposta em que o dia de visita seria um date com o marido. Eles se arrumam lá para nos receber também. Nada mais justo né?”, explica.

Foto: Cortesia

Para divulgação, são diferentes vídeos com trends virais e looks que estão à venda, sempre se mantendo no que está em alta na internet. Quando vê um novo vídeo viral fora do seu nicho, a vendedora diz que logo pensa em como adaptar para realidade da loja e postar. 

Assim que investiu nesta divulgação, foram surgindo demandas de outros estados interessadas em comprar os produtos. Camilla não tinha ideia que outras regiões também seguiam o padrão de moda da Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo. Foi assim que a loja foi se adaptando com novas opções de roupas e entregas nacionais.

A loja hoje

Atualmente a loja conta com novidades e um time um pouco maior. Ainda que a dona cuide da maior parte das funções do negócio, o Bazar da Bez hoje tem uma funcionária no atendimento de vendas e suporte no site e no Whatsapp. A loja também aumentou seu comércio para lingeries com padrão sem bojo, aro ou acessório, uniforme para detentos e também um espaço sexshop.

A loja foca no atendimento online na maior parte da semana e abre a parte física na sexta e no sábado, das 11h até às 22h. Seu público, em maior parte, é composto por esposas de presos, cujo conteúdo é direcionado desde o início.

“Além de ser a parcela que eu me encaixo e tenho mais conexão, é também a que mais consome. As visitas se tornam um date com o marido e a mulher quer estar com a auto estima em dia e bem arrumadas dentro do possível, assim como eles também se arrumam e se preparam para nos receber”, relata.

Uma das clientes mais antigas, Isabela Pereira, de 21 anos, se encaixa nessa parcela. Consumidora da loja desde julho de 2023, a inovação, variedade, produtos de qualidade e o atendimento prenderam a cliente todo esse tempo. Para Isabela, o Bazar é um espaço de confiança e autoestima.

“Elas conseguem trazer autoestima pra todas nós. Nós amamos cada conjunto, cada lingerie, cada variedade de acessórios, perfumaria… É muito bom se sentir bonita e confortável. Me sinto muito confiante com meus looks, toda semana de uma cor. Eu particularmente adoro e toda visita eu compro um look novo, já tenho uma coleção com os produtos da loja”, conta a cliente.

Para o futuro, Camilla Bezerra conta que deseja abrir mais lojas físicas em pontos estratégicos e expandir o seu público, que já está aumentando em outra área: “as pessoas que gostam dos looks mais ‘comportados’ para fazer academia também tem sido um público que tenho conquistado”.